João Santos: a sua condição de médio volante de dúbia qualidade assentou que nem uma luva
na alcunha oferecida, antes da aquisição da dita marca/alcunha pela Volquesseváguen.
Compreendido?
Águas de Março ou Sem Águas, em Março
Pelo Prof. Quarlos Queirós, cosmógrafo.
A 29 de Março de 1987, a selecção portuguesa escrevia mais um passo negro no seu historial confuso, opaco e obnóxio. Respiravam-se ainda os quentes ares de Saltillo e o também quente Caldeirão dos Barreiros recebia a visita dos comandados de Júlio Cernadas Pereira “Juca”. A tarde estava quente e Malta, como sempre, prometia ser um alvo fácil para as aspirações lusas na qualificação para o Euro 88, esse mítico torneio. Na pérola do Atlântico, o rectângulo lusitano encontrava-se com a lápis lazúli do Mediterrâneo. Os onzes entram na mágica e também rectangular arena e, de imediato, a náusea, o incómodo e o mal estar tomam conta dos espectadores. Com efeito, o onze português, nessa tarde de domingo, foi, sem sombra de dúvidas, um dos três piores de todos os tempos. Por isso merece ser lembrado: há um estranho fascínio da humanidade por fenómenos tão maus, tão kitschs, que acabam por se tornar quasi-geniais e lendários. Que o diga Ed Wood. Do cinema para a bola, aquela tarde de Março, sem Águas, Rui, ditou um resultado condizente com o onze e a exibição: o clássico empate com sabor a derrota a dois golos. Mas atentemos na constituição das equipas:
Portugal: Jesus (Vitória de Guimarães); Veloso (Benfica), Dito (Benfica), Eduardo Luís (FC Porto) e Álvaro Magalhães (Benfica). Até aqui, tudo bem. Jesus era baixo, mas tinha bigode e Bento tinha o peróneo feito num 8, Veloso houvera sido injustiçado por um enganoso e falso caso de dopping, Dito era... Dito (e tinha o apelido de Camasselle entre o Eduardo e o Mendez), Eduardo Luís ia ser campeão europeu esse ano e Álvaro contava uma equipa de futebol pelos dedos das mãos. Os problemas começavam no meio campo: António Frasco (FC Porto), Nascimento (V. Guimarães) Adão (V. Guimarães) e Jaime das Mercês (Belenenses)! Palavras para quê? Reparem no elemento vítreo (Frasco) e nos elementos religiosos: Adão, o Nascimento e as Mercês. Céus, que simbolismo. Mais ainda se dispensam as palavras quando, aos 45 minutos Frasco encosta para Rui Barros, um ilustre varzinista de 89 centímetros, e – agora sim, o momento épico – aos 82 minutos Nascimento, o verdadeiro armário dos anos 80, dá lugar a João Santos, conhecido no mundo do futebol por Skoda, jogador do Portimonense. Sim, Skoda assumia-se como internacional A. Com este gesto irreflectidamente épico, Juca abria as portas do estrelato a nomes obscuros como Eduardo Lúcio, os próprios Nascimento e Carvalho, Gilberto, Vado, Nelo, Tavares, o comeback de Silvino Louro, Nogueira, Jorge Ferreira e Rogério Matias. Este gesto tem paralelismo simbólico com a tomada de Antioquia pelos Cruzados, em 1099, só que adaptada ao futebol: o fim de um mito e o imediato começo de outro. Mas, porque o mal não fica por aqui, lá na frente jogaram Manuel Fernandes, com 36 anos, mas fresh as a lettuce; e do Desportivo de Chaves para o mundo, o matador Jorge Plácido. E o que é certo é que Plácido matou, e por duas vezes, sendo ele o salvador da enlameada honra portuguesa. Eis a marcha do marcador: 12 minutos, Plácido abre o activo. Aos 24 minutos, Mizzi empata. O pior estava guardado para o minuto 67, quando o lendário maltês Busutill coloca Malta em vantagem pela primeira vez na História. Placidamente, Plácido consegue as chaves da salvação ao marcar aos 78 minutos. O empate estava feito. Para a eternidade. From Here to Eternity, como disse o Outro.
A título de registo, aqui fica o heróico onze maltês: Cluett, Buttigieg, Camilleri, Scicluma e Azzopardi; Busuttil (substituido para a ovação aos 87 minutos por Schembri), Vella, Laferia e Degiorgio; Mizzi e Scerri.
Foi árbitro da partida o senhor John Kinsella, da Irlanda.