30.11.03


Barradas e Celso Maciel: All Stars do Covilhã 88

A Falta de Definições Rígidas
Pelo Prof. Quarlos Eirós

A minha tia Gertrudes Steiner Eirós, catedrática de semiótica na Universidade da Pampilhosa, sempre me disse que o pós modernismo não pode, sob o risco de cair numa obsolescência castrante (as palavras são dela), ser explicado por conceitos rígidos e academicamente formais. Antes deve ser plasmado através de exemplos. No futebol, cogitei (ergo sumei), deve passar-se o mesmo. Não tenho uma definição rígida para pós modernismo no futebol, ao contrário do meu amigo Aurárcio Mélio. Antes mostro momentos pós modernos. E hoje de manhã, de visita a essa bela cidade de Covilhã relembrei um desses momentos altamente conceptuais: o onze inicial do Sporting local no mítico embate que, a 13-3-88, ditou o empate a uma bola com o então campeão europeu, FC Porto. Alinharam os "montanheiros" da seguinte forma: Barradas; Gregorio Freixo, Real, Marcelino, Joao Gouveia; Antonio Borges (Saucedo 82´ ), Biri, Carlos Alberto, Mesquita (Kalogue 88´ ); Jacques, Celso Maciel, tendo Biri marcado aos 59 minutos e Gomes, o bibota, empatado aos 79. De notar, neste onze histórico que manietou o FC Porto, os nomes que, paulatinamente, iam trilhando o caminho para a pós modernidade do luso futebol: Barradas, Kalogue, Saucedo, António Borges, Jacques (lê-se o "s" do fim) e Celso Maciel. Ao fim e ao cabo, footballeurs que escrevem a pós história ou a sub história do futebol português e da sua incessante busca pela mediocridade, pelo kitsh, pelo misticismo e pelo mós podernismo (sic). No final, o Sporting da Covilhã foi último classificado, com 21 pontos. Valeu a pena. Um desses pontos está, ainda hoje, gravado a ouro na história do clube: arrancado a forceps ao Campeão Europeu.

29.11.03


Rumo ao pós modernismo total: uma imagem histórica
do onze lusitano que derrotou a URSS com a ajuda de
um árbitro mais português que o Dimas Teixeira.

O Milagre da Qualificação (1-Euro 84)
por Augusto Justo, astronauta

A 27 de Abril de 1983, a selecção de todos nós entrava, nervosa, no mítico Estádio Lenine em Moscovo, para defrontar a sua congénere soviética, em mais um jogo de campanha para o Euro 84. Andropov, secretário geral do PCUS, soltava, do alto da sua tribuna presidencial, um pouco diplomata "está no papo". A noite estava gelada para os comandados de Otto Glória, a saber, Bento; Pietra, Humberto Coelho, Bastos Lopes e João Cardoso; Festas (Costa), Carlos Manuel, Alves e Jaime Pacheco; Gomes e Nené. O resultado - cilíndrico - deixava margem para poucas dúvidas sobre quem iria ao Euro. A URSS matava Portugal com um categórico 5-0, numa aplicação exemplar da famosa "geometria do futebol soviético da escola de Lobanovsky". O treinador ucraniano apenas no quinto golo soltou um esgar de felicidade, ao levar a mão ao cachaço. Era assim Valery: um cerebral.
De malas aviadas para Lisboa, a comitiva portuguesa regressava convencida de que só um milagre os levaria ao Euro. E foi isso que aconteceu. Primeiro, Otto Glória abandona o comando da selecção e é substituido por Fernando Cabrita e uma obscura equipa técnica gestora de tensões entre SLB, FCP e SCP. Depois... depois veio o 13 de Novembro. O estádio da Luz num ambiente festivo de pós verão de S. Martinho recebia dois onzes, logo um vinte e dois, ambos a um passo da qualificação. E o milagre ali tão perto, nas mãos de Bento e nos pés de Lima Pereira, João Pinto, Eurico, Inácio; José Luís, Carlos Manuel, Jaime Pacheco e Chalana (Shéu); Gomes e Jordão. Nando Chalana, farta cabeleira, bigode pós moderno e um drible estonteante deambula pela esquerda, flutua rumo à área. Ninguém o pára. Ninguém? Ninguém, excepto o romeiro Demianenko, com uma falta cometida a cerca de 3 ou 9 metros da área de rigor. O árbitro vacila e aponta penalty. Hilariedade geral no Estádio da Luz, grita-se milagre, milagre! e Rui Jordão - agora pintor - corre para a bola e fuzila o lendário Dasaev. Golo de Portugal. Assim, seco como o comentário do Rui Tovar. França, aí vamos nós. "Foi milagre", disse eu. "Nem penses", disse-me o meu primo lusoviético Vassily Justo: "A pravda é que a URSS é sempre gamada quando joga no ocidente", concluiu.

25.11.03

COMUNICADO
O Futeblog Total está diferente. Veste roupa nova, tem a Secção Pós Moderno da Semana, finalmente as trombas dos seus criadores e cronistas são mostradas. Tudo isto são pequenas prendas pela passagem do seu - dele, blog - quarto mês. É claramente, meus amigos, um blog ainda mais pós moderno. Muito mais pós moderno. Arriscamos mesmo um Pós-pós moderno. E como prova do que dizemos, aqui fica, para a posteridade, um dos momentos inaugurais, repetimos - inaugurais - da pós modernidade no futebol português: a apresentação do Vizela na primeira divisão portuguesa, no longínquo, mas não remoto, ano de 1985.
Viva a pós modernidade, viva o futeblog-total,
um bem haja,
Pela FUTEBLOG-TOTAL, SAD (but true)
Augusto Justo
Aurárcio Mélio
Quarlos Eirós



De notar nesta equipa o mítico Manuel Correia (terceiro a contar da esquerda, em pé), o Guarda Redes Sérgio - por muitos considerado o novo Katzirz - e o corsário Maurício (segundo a contar da direita, em baixo). Tudo isto sem deixar de notar o olhar pós moderno daquela criança vizelense, esperançosa que, num "avenir" não muito distante, a sua aldeia pudesse ser concelho. Assim o foi.


João Santos: a sua condição de médio volante de dúbia qualidade assentou que nem uma luva
na alcunha oferecida, antes da aquisição da dita marca/alcunha pela Volquesseváguen.
Compreendido?

Águas de Março ou Sem Águas, em Março
Pelo Prof. Quarlos Queirós, cosmógrafo.


A 29 de Março de 1987, a selecção portuguesa escrevia mais um passo negro no seu historial confuso, opaco e obnóxio. Respiravam-se ainda os quentes ares de Saltillo e o também quente Caldeirão dos Barreiros recebia a visita dos comandados de Júlio Cernadas Pereira “Juca”. A tarde estava quente e Malta, como sempre, prometia ser um alvo fácil para as aspirações lusas na qualificação para o Euro 88, esse mítico torneio. Na pérola do Atlântico, o rectângulo lusitano encontrava-se com a lápis lazúli do Mediterrâneo. Os onzes entram na mágica e também rectangular arena e, de imediato, a náusea, o incómodo e o mal estar tomam conta dos espectadores. Com efeito, o onze português, nessa tarde de domingo, foi, sem sombra de dúvidas, um dos três piores de todos os tempos. Por isso merece ser lembrado: há um estranho fascínio da humanidade por fenómenos tão maus, tão kitschs, que acabam por se tornar quasi-geniais e lendários. Que o diga Ed Wood. Do cinema para a bola, aquela tarde de Março, sem Águas, Rui, ditou um resultado condizente com o onze e a exibição: o clássico empate com sabor a derrota a dois golos. Mas atentemos na constituição das equipas:
Portugal: Jesus (Vitória de Guimarães); Veloso (Benfica), Dito (Benfica), Eduardo Luís (FC Porto) e Álvaro Magalhães (Benfica). Até aqui, tudo bem. Jesus era baixo, mas tinha bigode e Bento tinha o peróneo feito num 8, Veloso houvera sido injustiçado por um enganoso e falso caso de dopping, Dito era... Dito (e tinha o apelido de Camasselle entre o Eduardo e o Mendez), Eduardo Luís ia ser campeão europeu esse ano e Álvaro contava uma equipa de futebol pelos dedos das mãos. Os problemas começavam no meio campo: António Frasco (FC Porto), Nascimento (V. Guimarães) Adão (V. Guimarães) e Jaime das Mercês (Belenenses)! Palavras para quê? Reparem no elemento vítreo (Frasco) e nos elementos religiosos: Adão, o Nascimento e as Mercês. Céus, que simbolismo. Mais ainda se dispensam as palavras quando, aos 45 minutos Frasco encosta para Rui Barros, um ilustre varzinista de 89 centímetros, e – agora sim, o momento épico – aos 82 minutos Nascimento, o verdadeiro armário dos anos 80, dá lugar a João Santos, conhecido no mundo do futebol por Skoda, jogador do Portimonense. Sim, Skoda assumia-se como internacional A. Com este gesto irreflectidamente épico, Juca abria as portas do estrelato a nomes obscuros como Eduardo Lúcio, os próprios Nascimento e Carvalho, Gilberto, Vado, Nelo, Tavares, o comeback de Silvino Louro, Nogueira, Jorge Ferreira e Rogério Matias. Este gesto tem paralelismo simbólico com a tomada de Antioquia pelos Cruzados, em 1099, só que adaptada ao futebol: o fim de um mito e o imediato começo de outro. Mas, porque o mal não fica por aqui, lá na frente jogaram Manuel Fernandes, com 36 anos, mas fresh as a lettuce; e do Desportivo de Chaves para o mundo, o matador Jorge Plácido. E o que é certo é que Plácido matou, e por duas vezes, sendo ele o salvador da enlameada honra portuguesa. Eis a marcha do marcador: 12 minutos, Plácido abre o activo. Aos 24 minutos, Mizzi empata. O pior estava guardado para o minuto 67, quando o lendário maltês Busutill coloca Malta em vantagem pela primeira vez na História. Placidamente, Plácido consegue as chaves da salvação ao marcar aos 78 minutos. O empate estava feito. Para a eternidade. From Here to Eternity, como disse o Outro.
A título de registo, aqui fica o heróico onze maltês: Cluett, Buttigieg, Camilleri, Scicluma e Azzopardi; Busuttil (substituido para a ovação aos 87 minutos por Schembri), Vella, Laferia e Degiorgio; Mizzi e Scerri.
Foi árbitro da partida o senhor John Kinsella, da Irlanda.

19.11.03


Medane, Zim e Barnjak, a lendária tripla de ataque dos 3 F's: feios, fortes e famalicenses.
Três exemplos da peculiar onomástica do Famalicão em meados dos anos noventa.

A ONOMÁSTICA NO FUTEBOL (2ª parte)
Pelo Sr. Aurárcio Mélio, onomasticista.

O nome Vila Nova de Famalicão já terá ocorrido aos mais bem informados dos meus estimadíssimos leitores. É pois um facto: o team do Famalicão 91/92 é uma verdadeira delícia para os amantes da onomástica. A descrição poderia ser exaustiva, e por isso resolvemos focalizar toda a nossa atenção apenas na defesa, mais especificamente na tripla de centrais exibida pelo grémio famalicense.
Assim, enquanto do meio campo para a frente tínhamos verdadeiras preciosidades onomásticas como Brazete, Gena (sim, era um homem ), Barnjak ou Dane Kupresanine (embora, para quem não saiba, na Bósnia-Herzegovina, Kupresanine corresponda ao nosso portuguesíssimo Silva), na defesa tínhamos, quais anjos de Charlie, a tripla infernal, um verdadeiro muro de Berlim (só que posterior a 1989) constituído por Ben-Hur, Tanta e Lula.

Ben-Hur de Oliveira deriva obviamente a sua pós–moderna graça, dessa mítica personagem literária criada por Lew Wallace e protagonista do romance histórico com o mesmo nome. Desembarcou Ben-Hur na ocidental praia lusitana na já longínqua época de 87/88, para representar o histórico “Marialvas”. Pois nessas primeiras épocas em Portugal, Ben-Hur era sem dúvida o mais forte remador da embarcação romana que era o Marialvas. Não havia chicotada psicológica que o detivesse. A qualidade técnica do Marialvas era de tal ordem que Ben-Hur era uma verdadeira vedeta. Um autêntico Charlton Heston da defesa Marialvense.
Claro está que tais prestações lhe valeram 3 consequências: ascensão na carreira, ingresso no Famalicão e finalmente a tomada de consciência das suas reais (in)capacidades. É certo que a personagem Ben-Hur do romance passa uns anos da sua vida agarrado a um pau (remo), mas nos anos seguintes, em Famalicão, o nosso Ben-Hur exagerou no seu uso. É que na última época Bennie (para os amigos) foi expulso 4 vezes! Claro que essa sua faceta lhe valeu a ida para divisões inferiores onde andou durante anos representando clubes de inegável dimensão como o Lourosa, Freamunde ou Câmara de Lobos.
E pronto: na 3ª parte do post não percam: Tanta e Lula.

13.11.03


Vinagre e Pingo: dois exemplos liquefactos da onomástica pós moderna no futebol luso.

A ONOMÁSTICA NO FUTEBOL.
Pelo Sr. Aurárcio Mélio, doutorado em filologia românico-gótico-manuelina.

A onomástica nunca foi uma questão de somenos para o pós-modernismo. Na verdade, não podemos ignorar a existência de uma estreitíssima relação dialéctica entre o nosso “eu” e o nome que nos atribuíram. Meus amigos, todos somos escravos do nosso nome. Ele existe independentemente da nossa vontade e por mais que queiramos, não lhe podemos fugir.
Ora, no mundo da bola de capão, este problema merece um especial destaque. Dando uma base científica aquilo que o povo de há anos a esta parte vem dizendo (“Com aquele nome é impossível que saiba jogar à bola”), não receamos em afirmar: a explicação para a inabilidade no domínio da chincha, em muitos casos, começa no próprio nome do praticante.
Não faltam exemplos: quem não se recorda de Pingo, esse médio ofensivo que chegou um dia a vestir de azul e branco. A explicação para o seu fracasso está obviamente contida no nome. É que se imaginarmos que o talento, a fantasia ou a técnica estão contidos num garrafão de 5 litros, Pingo tinha de facto apenas um pingo de cada. Outro exemplo é Vinagre, em tempos defesa flaviense. Como não considerar verdadeiramente azedas as suas intervenções na defensiva azul-grená? Pior, a cada toque na bola de Vinagre, a cara dos furiosos adeptos flavienses contorcia-se de tal forma, que parecia que tinham engolido uma litrada dele (de vinagre, claro).
Ora, aqui chegados, eis que nos assalta uma dúvida. No que à onomástica tange, qual teria sido a equipa que no passado tivesse revelado a maior peculiaridade, o maior virtuosismo, enfim, o maior pós-modernismo? Caros leitores, devemos confessar que, por esta vez, a pesquisa não foi longa. É que após uns breves segundos de reflexão, recuamos no tempo até à época de 91/92 e fomos parar à mais feia de todas as cidades minhotas.
(fim da 1ª parte).

11.11.03


Juca, sucesso e San Siro: três conceitos distintos, cuja junção é altamente improvável.
(Daí o facto de só estarem duas imagens: o conceito de sucesso não se deixou fotografar)


Ò ARVORES DA VIDA, PARA QUANDO O VOSSO INVERNO? (Rilke)
ou Como Me Apercebi de Um dos Piores Onzes de Sempre da Selecção Portuguesa
Por Augusto Justo, Milanês de gema e clara

O ambiente infernal do estádio de Giuseppe Meazza contrastava com a penumbra invernal que cobria todo o parque de San Siro e a Via Primaticcio, que a ele conduzia. Por lá caminhava, cabisbaixo como sempre – ò triste sina ser português – em direcção ao estádio, para assistir ao Itália – Portugal. Os meus colegas transalpinos – na altura, era leitor de Português na Universidade de Milão – tiveram a delicadeza de me oferecer um bilhete. A Itália encontrava-se já apurada para o Euro 88, a realizar na RFA. Portugal, comme d’habitude, tinha aquelas contas todas para fazer: ganhar por mais de dois, menos de cinco, esperar que Malta cilindrasse a Suécia em Estcocolmo por uma diferença igual ou superior a seis golos, e que a Suíça também perdesse contra si própria por mais de três. Enfim, o fado lusitâno no seu esplendor. Mas voltemos ao ambiente infernal naquela invernal noite de cinco de Dezembro de 1987. Entro no Giuseppe Meazza e sou saudado por duas centenas de pessoas, como acontece sempre que lá vou. Sento-me e contemplo aquele templo sem tempo. Penso na Portugalidade de que falava Eduardo Lourenço e que cantava a então debutante Teresa (Sport Comércio e) Salgueiro(s), e eis senão quando começo a ouvir o onze inicial que vai defrontar a selecção de transalpes. Num ápice, os meus olhos ferem-se. Como que são perpassados por punhais quentes. Levo as mãos à cabeça e lanço-me do segundo anel directamente para o relvado. Embato violentamente no banco dos suplentes portugueses, abro a cabeça ao meio e sou amparado por Júlio Cernadas Pereira “Juca”, enquanto me desfaço em sangue e papa cerebral. Ainda vocifero alguns impropérios, em vernacular linguagem, “Ò Juca, o que é que nos estás a fazer? Porquê, perchè?” foi o mais brando, mas sou de pronto internado. O resultado falou por mim: três secas. Mas histórico, histórico, foi mesmo o onze que Portugal apresentou naquela noite. Seguramente, não o pior, mas o mais Pós Moderno, Pós Saltillo e, há até quem diga, Pós Vitória de Guimarães.

Italia:
Zenga, Bergomi, Francini, F. Baresi, R. Ferri, Bagni (61’ De Agostini), Donadoni, De Napoli, Altobelli (68’ Mancini), Giannini, Vialli.
Treinador: Azeglio Vicini.

Portugal
António Jesus (Vitória de Guimarães) (68’ Eduardo Lucio (Varzim S.C.)), João “Costeado” (Vitória de Guimarães), Miguel (Vitória de Guimarães), Frederico Rosa (Boavista), Eduardo Mendez “Dito” (Benfica), António Carvalho (Vitória de Guimarães), Hernâni Madruga Neves (Benfica), Rui Nascimento (Vitória de Guimarães) (55’ Parente (Boavista)), Coelho (Boavista), Adão (Vitória de Guimarães), Gilberto (Belenenses).
Treinador: Júlio Cernadas Pereira “Juca”.


Golos: 8’ Vialli, 87’ Giannini, 89’ De Agostini

Árbitro: Herr Keizer (Holanda).

7.11.03

AURÁRCIO MÉLIO APRESENTA-SE.
Pelo Sr. Aurárcio Mélio, aposentado da função pública.

O meu bem haja a todos os leitores do blogue mais pós moderno da blogosfera. O meu nome é Sr. Aurárcio Mélio, tenho 98 anos e vou ao futebol desde que o meu pai um dia me levou a ver um jogo do F. C. Roriz, contava eu na altura 76 lindas primaveras. Naturalmente que tantos anos de acompanhamento desse fenómeno que é o pontapé na bola me habilitam a produzir um comentário de experiência feita quase impar no panorama mediático português. Espero por isso sinceramente que disfrutem do …. coiso……. Bom, perdi-me um bocado… mas…. ah! Já sei, queria para já dizer-vos que iniciarei a minha contribuição neste blogue com um estudo altamente pós-moderno acerca da onomástica no futebol. Para a semana, se não tiver que ir mudar a algália, postarei a primeira parte onde começo por abordar justamente a onomástica no futebol, não sei se estão a ver. Mais uma vez o meu bem haja e até sempre.

5.11.03




A MAGIA DO FUTEBOL
Pelo Professor Quarlos Eirós, esteta.

Marco Tardelli remata cruzado ao poste direito da baliza de Schumacher e faz o segundo golo da Italia na final do Campeonato do Mundo de 1982. De imediato corre de braços abertos e punhos fechados, abanando a cabeça no signo da negação. As lágrimas caem-lhe do rosto. Tardelli marca um golão. O público vibra, o presidente italiano, Sandro Pertini, festeja na tribuna de honra. Toda a gente ri e celebra. Tardelli chora. Os colegas abraçam-no. As imagens são impressionantes. E gravam-se para sempre na retina dos amantes do futebol total. A Italia, ao minuto sessenta e nove, tem a final praticamente ganha. O momento é belíssimo. Único.

11-7-1982, Madrid
Itália-RFA 3-1
Golos: 56’ Rossi, 69’ Tardelli, 80’ Altobelli, 83’ Breitner.
Italia: Zoff, Bergomi, Cabrini, Gentile, Collovati, Scirea, B.Conti, Tardelli, Rossi, Oriali, Graziani (7’ Altobelli, 89’ Causio). Treinador: Bearzot.
RFA: Schumacher, B.Förster, Briegel, Kaltz, K.H. Förster, Stielike, Littbarski, Dremmler (62’ Hrubesch), Fischer, Breitner, Rummenigge (70’ Müller).
Treinador: Derwall.
Árbitro: Coelho (Brasil).

"The expression on Marco Tardelli’s face, just after scoring Italy’s second goal in the 3-1 World Cup final triumph over West Germany in 1982, is one of the competition’s most enduring images - like 17-year-old Pele crying after winning the trophy in 1958, or the Cruyff turn in 1974. It illustrates the ecstasy, the unmatchable joy of scoring in the biggest football match of all. Seconds after seeing his ferocious 20-yard drive beat Harold Schumacher, Tardelli picked himself off the floor, began shaking his head and waving his fists before bursting into tears as he rushed to embrace his compatriots on the substitutes’ bench. It was fitting that the hard-tackling Juventus midfielder should score in the final. He was Italy’s man of the match that balmy July night in Madrid." in www.juventuz.com

4.11.03


Imagem do terceiro golo romano, no mítico Roma-Salernitana.
À direita, a claque da Salernitana no Olímpico de Roma, com destaque para
Peter Marks, completamente possesso, empunhando um petardo .

COMPREENDER O PÓS MODERNISMO NO FUTEBOL

7 - FUTEBOL, QUE VIOLÊNCIA.
Augusto Justo, membro da Carbonária


As pesquisas empíricas do psicólogo social Peter Marks, velho amigo de Quarlos Eirós e de Aurárcio Mélio acrescentaram elementos novos às análises da violência no futebol, associando-a à agressividade humana e despindo-a de seus elementos históricos e culturais. Com efeito, Peter Marks disfarçou-se habilmente de adepto da Salernitana e esteve na mítica escalada a Roma: Salerno tem 20.000 habitantes, o estádio olímpico de Roma tem capacidade para 80.000. Nesse fatídico domingo, a Salernitana levou uma claque com cerca de 10.000 pessoas (metade da sua população) a Roma e acabou goleada por cinco secas. Peter Marks, irreconhecivelmente disfarçado de Pietro di Marco, acompanhou a claque e libertou-se dos seus elementos históricos e culturais (norte americano que nem sabe o que é um fora de jogo ou um passe de trivela) e decidiu insultar da cabeça aos pés os adeptos da Roma. Entrou de pirete feito no Olímpico, armado de navalhas até aos cabelos, abocanhou um carabinieri e cuspiu nas testas de Giuseppe Gianinni. Foi espancado até ao coma por duas claques inteiras da Roma. No regresso a Salerno, sem dentes, e com o mindinho esquerdo enfiado no nariz, foi convidado para professor de Estudos sobre a Violência no Futebol na universidade de Salerno e foi eleito chefe de claque honorário (sendo ele o autor da belíssima canção da claque " La nostra grande fede, mai morirà, e dalla curva sud, un grido s'alzerà. Alè Salernitana, con te sempre saremo, noi ti vogliam campioni e allora canteremo! Lallalla, lallalla, lallalalalla, uè!")
A questão metodológica, crucial nos demais estudos, foi extremamente bem tratada pela equipa da Universidade de Salerno, chefiada por Marks, aquando de uma deslocação a Inglaterra. Aí conseguiu entrar num grupo de hooligans (com a desculpa infalível do contabilista) e realizar a sua pesquisa minuciosa. O que surpreendeu nos estudos destes grupos? A banalidade de seu estilo de vida, sua integração na sociedade - e não sua marginalidade, bem como um gosto desmesurado pela filosofia existencialista de Soren Kierkegaard, discernindo o filósofo dinamarquês do defesa central dos anos 80, Soren Lerby. A conclusão foi simples, para Marks: “estes brocos (sic) gostam de Kierkegaard por causa dos estádios: estético, ético, religioso e White Heart Lane”.

3.11.03


Três tipos de quebra nozes: o clássico, o sinfónico e o pós moderno.

COMPREENDER O PÓS MODERNISMO NO FUTEBOL

6 - NOVAS TECNOLOGIAS NA REALIDADE PÓS MODERNA
Por Augusto Justo, Postivista Moderado.

O futebol pós-moderno poderá ser disputado em estádios vazios, uma vez que as transmissões televisivas tendem a aprefeiçoar-se em todas as vertentes, roubando o público das arenas. Ainda por cima, um insulto ao árbitro, feito no sofá caseiro, atenta menos ao status social que um insulto cuspido de uma bancada preenchida por clientes e amigos. No que diz respeito aos aperfeiçoamentos, equipamentos eletrónicos poderão oferecer simulacros de interactividade. Por exemplo, o pacote “O Quebra Nozes”, prestes a ser comercializado: oferta de um cêdê e dêvêdê do bailado de Tchaikovsky, com a interactividade de poder estirar os ligamentos cruzados com uma entrada assassina a Mantorras, Rochembak ou Derlei. Contudo, e contraditoriamente, novos estádios surgem e com eles o chamamento de público. A moderna forma elíptica amplia os ângulos de visão do relvado e facilita a vigilância dos tiffosi. Os torrões de Alicante, vendidos pelo Sr. Mendes, se atirados certeiramente, não ferem, mas aleijam os árbitros.


O professor Szabo numa foto "tipo passe". Na imagem da direita, Szabo
(ao fundo, de mãos nos bolsos, a gritar "entrosa, Lászlo, entrosa"),
a aplicar metodologias pós modernas num treino.

COMPREENDER O PÓS MODERNISMO NO FUTEBOL

5 - O PRIMEIRO DOS PÓS MODERNISTAS?

Um tributo ao Professor Anton Szabo
Por Augusto Justo, membro da Carbonária

“Enquanto estilo extremamente individualista, o futebolista pós-moderno opera a libertação da marcação dura do defesa adversário mediante o recurso ao jogo de vista. Já não se devem usar encontrões ou jogadas semi rasteiras. Esses são exemplos de modernismos iluministas, dos quais a maioria dos jogadores ainda não conseguiu fugir. Jogem à bola, meus filhos das p**as”. Foi com estas belíssimas palavras que o professor Anton Szabo instruiu a primeira equipa pós moderna da europa, o MTK Budapeste, no intervalo de um jogo com o Tatabanya. O jogo encontrava-se empatado a uma bola e havia toda uma segunda parte pela frente. As palavras sábias de Szabo ecoaram num balneário atónito. O resultado foi uma expressiva derrota do MTK por 6-1, em apenas trinta minutos. A mentalidade dos jogadores do MTK não estava ainda preparada para uma mudança na sua cultura técnica, táctica e de vida. O futebol é pós isto mesmo (sic). E o jogador de futebol pós moderno é hoje a democratização, no quotidiano, daquilo que as vanguardas pretendiam com a arte: expressão pessoal, expansão da experiência, vida privada. Em contraste com o jogador de futebol meramente moderno, forjado pelo liberalismo económico e que se assumia como burguês, progressista, tenso, lento no rasgar de linhas de passe e por vezes, gordo e calvo (Nivaldo, do Portimonense). Assim sopram os ventos do tempo.