Juca, sucesso e San Siro: três conceitos distintos, cuja junção é altamente improvável.
(Daí o facto de só estarem duas imagens: o conceito de sucesso não se deixou fotografar)
Ò ARVORES DA VIDA, PARA QUANDO O VOSSO INVERNO? (Rilke)
ou Como Me Apercebi de Um dos Piores Onzes de Sempre da Selecção Portuguesa
Por Augusto Justo, Milanês de gema e clara
O ambiente infernal do estádio de Giuseppe Meazza contrastava com a penumbra invernal que cobria todo o parque de San Siro e a Via Primaticcio, que a ele conduzia. Por lá caminhava, cabisbaixo como sempre – ò triste sina ser português – em direcção ao estádio, para assistir ao Itália – Portugal. Os meus colegas transalpinos – na altura, era leitor de Português na Universidade de Milão – tiveram a delicadeza de me oferecer um bilhete. A Itália encontrava-se já apurada para o Euro 88, a realizar na RFA. Portugal, comme d’habitude, tinha aquelas contas todas para fazer: ganhar por mais de dois, menos de cinco, esperar que Malta cilindrasse a Suécia em Estcocolmo por uma diferença igual ou superior a seis golos, e que a Suíça também perdesse contra si própria por mais de três. Enfim, o fado lusitâno no seu esplendor. Mas voltemos ao ambiente infernal naquela invernal noite de cinco de Dezembro de 1987. Entro no Giuseppe Meazza e sou saudado por duas centenas de pessoas, como acontece sempre que lá vou. Sento-me e contemplo aquele templo sem tempo. Penso na Portugalidade de que falava Eduardo Lourenço e que cantava a então debutante Teresa (Sport Comércio e) Salgueiro(s), e eis senão quando começo a ouvir o onze inicial que vai defrontar a selecção de transalpes. Num ápice, os meus olhos ferem-se. Como que são perpassados por punhais quentes. Levo as mãos à cabeça e lanço-me do segundo anel directamente para o relvado. Embato violentamente no banco dos suplentes portugueses, abro a cabeça ao meio e sou amparado por Júlio Cernadas Pereira “Juca”, enquanto me desfaço em sangue e papa cerebral. Ainda vocifero alguns impropérios, em vernacular linguagem, “Ò Juca, o que é que nos estás a fazer? Porquê, perchè?” foi o mais brando, mas sou de pronto internado. O resultado falou por mim: três secas. Mas histórico, histórico, foi mesmo o onze que Portugal apresentou naquela noite. Seguramente, não o pior, mas o mais Pós Moderno, Pós Saltillo e, há até quem diga, Pós Vitória de Guimarães.
Italia:
Zenga, Bergomi, Francini, F. Baresi, R. Ferri, Bagni (61’ De Agostini), Donadoni, De Napoli, Altobelli (68’ Mancini), Giannini, Vialli.
Treinador: Azeglio Vicini.
Portugal
António Jesus (Vitória de Guimarães) (68’ Eduardo Lucio (Varzim S.C.)), João “Costeado” (Vitória de Guimarães), Miguel (Vitória de Guimarães), Frederico Rosa (Boavista), Eduardo Mendez “Dito” (Benfica), António Carvalho (Vitória de Guimarães), Hernâni Madruga Neves (Benfica), Rui Nascimento (Vitória de Guimarães) (55’ Parente (Boavista)), Coelho (Boavista), Adão (Vitória de Guimarães), Gilberto (Belenenses).
Treinador: Júlio Cernadas Pereira “Juca”.
Golos: 8’ Vialli, 87’ Giannini, 89’ De Agostini
Árbitro: Herr Keizer (Holanda).
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