CARTAS DOS LEITORES PÓS MODERNOS
Directamente do bairro londrino de Pimlico, epicentro de discussão nihilista, pós moderna e pós estruturalista, é com enorme prazer que apresentamos uma breve monografia de Ernest Lottin Ebongué, escrita por um homem que dispensa apresentações, um pós moderno total, tal como nós: José Meirinho. A ele o nosso mais sincero "obrigados".
Ernest Lottin Ebongué festeja um golo ou foge assustado do místico Roger Milla, na Taça CAN 84.
Sempre existiram futebolistas que ao longo dos tempos tiveram um papel importantíssimo nas suas equipas mas que nunca tiveram o devido reconhecimento da massa adepta. Temos o exemplo da importância de Paulo Bento o Homem-Invisível, ou de Marito também ele quase invisível. Na verdade estes jogadores eram autênticas traves mestras nas suas equipas. O mesmo acontece com a pós modernidade: por vezes não reparamos naqueles que contribuíram para alicerçar o pós modernismo no futebol português. Ebongué é sem duvida um desses jogadores. De facto, Ernest Lottin Ebongué conferiu ao futebol lusitano uma dimensão internacional que apenas surpreende os mais incautos. Após uma brilhante participação no Mundial de Espanha em 82 onde foi suplente não utilizado pela selecção dos Camarões, marcou um dos três golos com que a sua selecção venceu a Nigéria na final da CAN-84. Com o curriculum enriquecido, foi resgatado ao Tonnerre de Yaoundé pelo Vitória de Guimarães no ano de 1988. Depois do estrondoso sucesso da tripla N'Dinga M'Bote, N'Kama Monduone e Basaúla Lemba, o Vitória tentava encontrar mais pérolas africanas para abrilhantar o seu plantel. A pujança do avançado camaronês valeu-lhe onze presenças e um cartão amarelo na equipa treinada por René Simões e pelo carimbo de António Oliveira.
O fulgor competitivo e o instinto de matador anestésico levaram os olheiros do Varzim, sempre atentos e também à procura da circularidade repetitiva da fórmula Lufemba-Vata Matanu Garcia, a oferecerem três anos de contrato a esta gazela africana. Até 1990 permaneceu ligado aos Lobos do Mar, acalentando a esperança de uma convocatória para a mítica equipa dos Camarões que maravilhou o mundo intelectual e pós moderno no Mundial 90. Contudo, a pouca projecção do Varzim no panorama do futebol europeu, levou-o a mudar de ares, sempre ascendetemente, para a pós industrial Vila das Aves. 23 jogos e 3 golos depois, este lion indomptable, qual cidadão do mundo, não se ficou por Portugal: homem de grandes desafios, possuidor de um espírito nómada e imediatista, rumou para a aliciante Liga Indonésia onde concretizou 11 golos na época de 1996/1997 ao serviço do gigante PKT. Pelo meio, em 1993, foi visto por um produtor de salpicões a treinar-se no Lamego.