14.10.04


Do I need to say more?

OS TRÊS FFF ou UM DESABAFO MUITO PESSOAL DE QUARLOS EIRÓS
por Quarlos Eirós, crente.

Fátima:
Anteontem fui a Fátima orar pela selecção nacional. O desconfortante empate no sábado aumentou a minha crença que Zeus Nozzo Zenhor quer muito pouco com a portugalidade futebolística. Como se o primeiro F quisesse saltar fora. Fui a Fátima e pedi pelo CrisNaldo, acendi 608 velas e um maçarico pelo Ricardo e pichei o a parede do Santuário com uma interpretação pessoal cubista da Virgem de Caravaggio. Afinal, e tal como a Sagres, ela é uma padroeira da Selecção.

Futebol:
Prometi também beber uma Sagres de meio litro por cada golo da Selecção. Hoje ao acordar não via do olho esquerdo, sem razão aparente, não consegui ler o meu Lipowetsky matinal, e a minha mulher, Gertrudes Steiner Eirós, não me fala e acusa-me de ter andado a jogar à bola com o meu cão, Aristóteles, que apareceu morto. Aparentemente terá sido pontapeado várias vezes. Estranho.
O jogo foi bonito de se ver. Cada tiro, cada melro. A Art-Deco deriva do nome de Anderson Luís de Souza, portuguesmente nascido em S. Bernardo do Campo, Famalicão, a 27 de Setembro de 1977. Aplica-se a um estilo que, iniciado por volta de 1997-98, só atingiria seu pleno desenvolvimento cerca de dois anos mais tarde. Trata-se de um estilo decorativo, e como tal de presença marcante no de-coração de todos os estetas do futebol.
A Art-Deco encontrou-se com o expoente máximo do desconstrutivismo canibal russo, em clara negação com a escola geométrica e metódica de Lobanovski. Se fosse no tempo deste Gigante, a Rússia poderia estar a levar 14 secas que ele nem se mexia. Yartsev tem um estilo mais próximo de Jaime Pacheco que de um Ossip Mandelstam. Mas pronto, o que interessa é que ganhamos.

Fado
E ao vir para casa, com três litros e meio de cerveja no bucho, cantarolava um fadinho futebolês, importalizado depois de uma famosa derrota contra a Espanha, nos idos dos anos trinta: "se a selecção trabalha/ como eu quero/ agora é que não falha/ nove a zero". O meu país, tão surrealizado por aí, ontem fez mais sentido.