18.10.04


Salgado & Veiga: queremos disco ao vivo.

A NIVELEIDA
Breve opúsculo sobre o pós Benfica-Porto.
Augusto Justo, emigrante

Não é apanágio desta ágora de profícua discussão tergiversar sobre minudências dos desafios do nacional maior de futebol. Nem é, em bom rigor, isso que ora se faz. Até porque o assunto em discussão não é menor, antes é gigante, do ponto de vista estruturalista, desconstrutivista, pós moderno e até um tanto ou quanto cósmico.
Falo, obviamente, das incidências discursivas do mais recente Benfica-Porto, autênticos espelhos da boçalidade grassante neste pedaço de terra pátria que é a nossa.
a) Salted Caroline
Comecemos pela análise do discurso de Carolina Salgado (que, a continuar assim, ainda se arrisca ao título de Pós Moderna do Séc XXI). Tal pérola discursiva foi-nos oferecida na forma de cartaz – um formato levemente panfletário – dirigido a Luís Filipe Vieira. Dizia o dito cujo cartaz: “Ò Orelhas, estou aqui.” Se isto não é poesia, eu sou o Joey Ramone. Antes de tudo, leve crítica à “menina” Carolina: porque não sermos mais imaginativos e dizer “Ò Dumbo, estou aqui”, ou “Ò Luís dos Pavilhões, estou aqui”? A metáfora é sempre uma arma muito mortífera. Já dizia o ditado: “ a cantiga é uma metáfora”. Carolina deu espectáculo (pelos vistos, nada de novo nela, bem habituada ao show-bizz e às luzes da "ribalta"), ao mostrar ao país a classe, savoir faire, poesia inata, elegância e sobretudo pujança intelectual daqueles cabelos loiros. Pós Modernas assim queria eu plantá-las no meu quintal. Florbela Espanca que se cuide. Nota 5 em 5.
b) Golden Pussy
José Veiga viveu 23 anos no Luxemburgo, pensa que isso desculpa quase tudo, mas tal facto não lhe dá o direito de falar assim. Eu fui professor na universidade de Bayreuth durante três anos, não pesco népia de alemão, logo, não o falo. Veiga, por muito que tente, não consegue articular quatro vocábulos sem dar um pontapé na gramática. Se a gramática fosse futebol, Veiga seria um Roberto Carlos. Aquele ar de incrível serenidade confere-lhe, porém, um estatuto quase doutoral, uma espécie de Mario Conde da bola. Ontem, porém, o espectáculo linguístico atingiu níveis quase olímpicos quando se referiu à questão do “pito dourado” ser, agora, um “pito azul”. A manifesta inépcia para pronunciar correctamente a palavra apito pode valer-lhe quer pesadas sanções internas, pelo uso de expressões obscenas (sobretudo se conectadas com o mesmo champagne que ele não bebe) quer a estupefacção geral da imprensa anglófona. É que, em bom inglês, língua que Veiga domina melhor que a sua, o que ele disse foi que “The Golden pussy is now a blue pussy”. Quem lê isto, ainda pensa que estamos no meio dum filme do James Bond em que a Pussy Galore volta a aparecer. E se calhar até estávamos, e eu é que já não percebo a ponta de um corno de cinema.
Nota 5 em 5.