30.7.04



A POESIA ESTÁ NOS RELVADOS
por Augusto "Prado Coelho só que menos volumoso" Justo


Artur Jorge de Braga Melo Teixeira. O Rei Artur. Le Roi de Paris. O Defenestrador da Luz. Um nome que, para todos aqueles que se debruçam sobre as varandas inclinadas da voragem galopante da pós modernidade no futebol, dispensa qualquer tipo de apresentações. Um autêntico homem vitruviano, um renascentista totalizante, aglutinador do tríptico “um melómano, um poeta, um treinador de futebol.”
Artur Jorge é um autêntico ying yang, um homem hegeliano em cuja tese reside a própria antítese que há-de florescer síntese. O que ganhou no FC Porto, perdeu no Benfica. O que o projectou no Paris Saint Germain, desprojectou no CSKA, enublou-se em França, no Matra Racing, enublou-se em Portugal, na Académica. Foi campeão europeu e não foi campeão europeu. A propósito de Cannigia e as drogas, afirmou que “todos nós temos as nossas dependências”, sobre o futebol defensivo que as suas equipas praticavam, propalou que o importante era fazer “coisas bonitas”. Teve a seu lado nomes míticos como os do Prof. Neca (também ele claramente merecedor de três ou nove posts), Raul Águas (o herói de Chaves), um tipo no Paris SG cujo nome se desconhece, mas que tinha um bigode igual ao dele e o mítico Octávio Machado.
Enfim, uma pleíade de antinomias capaz de fazer corar qualquer dialéctico. Contudo, e em primeiríssima mão, a razão deste post é trazer a lume uma análise literária ao livro de poesia (sim!) que Artur Jorge publicou: Vértice da Água. Lançado em 1983 pelas Edições O Jornal, Vértice da Água é um livro que reúne os poemas de um então debutante treinador de futebol. E logo ao entrarmos no seu corpo – do livro – ficamos com uma primeira dúvida: estaremos nós perante 96 poemas ou perante um só que se estende ao longo das 96 páginas de poesia? A subjectividade inerente a todo o discurso poético dar-nos-á a resposta.
Ao folhearmos as iniciais páginas, encontramos uma orientação programática e quase metodológica que perdurará ao longo de todo o livro. Ficamos a saber que está enfastiado e até enojado com a tendência do futebol de contenção “ Primeiro/ o conter da boca/ de rios caudalosos/ - vomitar excrementos” (pág 7), e que Artur Jorge advoga um futebol mágico, espectacular e metafórico (“são uivos de plátanos gigantes” – em clara alusão a uma defesa composta por homens com a altura de plátanos gigantes e a força de lobos) (pág 22).
Num crescente condensado de rememorações, de notas metafóricas sobre a vida dentro dos relvados, o poeta-treinador analisa alguns pontos de interesse ocorridos na sua (então curta) carreira de treinador: Uma vitória do Vitória de Guimarães em Faro é exultada com o verso “os mares são brancos em Marraquexe” (pág 33), uma derrota que quase leva ao seu despedimento, contra o Leixões, em pleno estádio do Mar é levemente abordada na frase “o mar queima” (pág 34), outra derrota comprometedora nos Barreiros é rememorada com “lembro aos berros: (...) ilhas de tragédia” (pág 41) e uma grande vitória contra o Hertha, daquelas onde se houvesse mais tempo de jogo a sua equipa chegava aos dez golos de diferença é assinalada pelo magistral “o homem teria dito mais coisas/ no teatro ao ar livre/ em Berlim” (pág 45).
Mas nem só da época futebolística em si nos fala este Vértice da Água. Antes contém as sementes de gloriosos anos vindouros: o génio, a velocidade alada e a magia de Futre são antecipados num profético “ia e vinha/ e acendia/ aos assobios/ fósforos” (pág 46), a lesão de Casagrande na campanha europeia é prevista em “Orgãos/ rompendo/por onde nada se separa/ fractura os ossos” (Pág 77).
Ficamos, também, a saber que o Poeta menospreza o Sporting (“Chegava de verde/ Quase oculto”, pág. 107), que ficava triste quando um jogador seu era expulso (“Todos os olhos caíram/ um/ a/ um/ não fora o rosto/ expulso/ de rastos” – Pág. 49), que sentia um grande apelo pelo desconstrutivismo destituído de qualquer nexo (“rebenta o cio das águas na barriga das vogais” - Pág. 94 – quereria o poeta falar do cio das Águias, numa clara alusão ao Benfica?) e que nutria um ódio visceral pelo Desportivo das Aves, propondo mesmo, sibilinamente, o seu desaparecimento enquanto colectividade: “aos pés as aves de mármore em breve extintas” (pág. 57).
Todavia, o maior destaque vai inteiramente para o poema que – reza a lenda – Artur Jorge terá lido no intervalo da final da Taça dos Campeões, poema esse alertante para os malefícios das influências dos empresários futebolísticos e apelativo à garra e entrega dos jogadores para a segunda parte do jogo. O resultado do jogo e da leitura é o que se conhece. O poema está aqui, integralmente reproduzido.

(corrida no estádio nacional)
O cão ladra
De joelhos
A coleccionadores de velhas imagens
A contrabandistas de atletas cegos
A elefantes iconoclastas nas margens
(obstinado corpo
alugado
de poderoso animal)

Em suma, mais que um livro, estamos perante um autêntico tratado sobre a inexplorada futebológica. O Vértice da Água está para esta arte futebológica como Prolegómenos de Toda a Metafísica Futura está, respectivamente, para os prolegómenos, para a metafísica e para o futuro.

19.7.04

Rumo ao Além Pós Modernismo
 
Por Aurárcio Mélio, corrector de bolsa
 
 
Permitam-me, por gentileza, que, neste pequeno opúsculo, saia por breves instantes da quadratura circular do futebol para entrar, ao de leve, levemente, na ars magna que é a política. O denominador comum é, como claramente se infere, o novo Primeiro Ministro de Portugal.
Previamente, devo explanar que pretendo operar uma ambiciosa divisão na minha vida e na pós modernidade portuguesa: com efeito, depois da quantidade industrial de fenómenos pós modernos que ocorreram este fim de semana, esta divisão não tão só tem que ser reconhecida – uma vez que ela já existe à priori – como tem de ser incluída nos compêndios e transmitida às gerações vindouras e vitivinícolas.
- Ora, perguntará o atento leitor, mas afinal, o que se passou este fim de semana?
- Ora, respondera o humilde escriba, neste fim de semana passou-se do Pós Modernismo ao Além Pós Modernismo.
- E porquê, senhor Doutor Professor Mélio? Replicará o atento leitor.
- Porque a quantidade de númenos e fenómenos pós modernos foi tanta que “as coisas” não ficaram iguais, treplicará o cronista.
- Ah sim?
- Sim
.
 
Comecemos.
Sábado, 17 de Julho
Na ressaca do cancelamento do concerto do meu grande amigo David Jones no estádio do Dragão, o XVI governo constitucional toma posse. O novo Primeiro Ministro abre a sua legislatura com um discurso diasloureiramente extenso e, usando a célebre táctica da catanada paginal, vai abatendo páginas atrás de páginas, lendo apenas um parágrafo por cada 4. O resultado, para além de discursivamente imperceptível – será Santana um desconstrutivista? (ficamos a saber que a retoma vem aí – silêncio- vamos cumprir o programa- silêncio- mas a segurança é um problema) é confrangedor e além pós moderno. Quanto mais não seja porque Sampaio quis chorar e não conseguiu.
 
Sábado 17 de Julho (2)
Telmo Correia, ministro do Turismo, demonstra que ainda antes do governo começar, a desunião faz a força. Em entrevista à SIC:
-  Está preparado para ir para o Algarve com o seu ministério?
- Algarve? Algarve só de férias. E este ano não vou.
 
Sábado 17 de Julho (3 - devia ser feriado para filósofos como nós)
O Benfica inicia a época no já clássico jogo contra aqueles amadores-suíços-que-apanham-sempre-14-0-mas-a-quem-os-encarnados-ganham-sempre-1-0-à-rasca-o-que-prenuncia-que-ainda-não-é-desta. Com as dificuldades do costume – ver o SLB jogar é semelhante a ver cinema neo-realista italiano, contemplativo esperançoso das dificuldades da vida e da infelicidade anunciada  (cfr, por todos, Ladrões de Bicicletas, de Vittorio de Sicca) – a turma de Trap lá chegou ao 2-0. Não é o jogo que interessa, nem a batatada monumental que se seguiu, provocada pela imbecilidade de uma empresa de segurança e pelas saudades da idade média da comunidade portuguesa em terras helvéticas. Duas notas seminais no trilho da além pós modernidade interessam registar:
Primus – a reviravolta no batatatal começa no exacto momento em que um adepto do FC Porto entra em campo e qual Costinha, alivia a cabeça de um segurança – entretido em esmagar, com um cassetete, o indefeso rim de um adepto segurado por três matarruanos-  para canto.
Corolário: lá fora somos todos portugueses, o euro ainda vive em nós, a bandeira tem sete castelos.
Secundus: Giovanni Trapattoni estava incrédulo com o que se passava ante seus olhos. Foi a sua praxe, a sua iniciação ao futebol português. Ter-se-á lembrado da sua terra natal, dos brioches comprados na pastelaria em Turim, dos Rio Grande, que ele tanto gosta, e daquela interessante canção “tomar em consideração/ se isto é assim no Verão/ o que será no Inverno”.
Corolário: Che cazzo ci sto facendo qui ?
 
Domingo 18 de Julho
Ricardo, o semi-frio do Montijo, herói e vilão para todos nós, apresentou um livro, que não foi escrito por ele, mas que foi ele que o escreveu. Surrealismos à parte, em continuidade neo kantiana, Ricardo é convidado para dar uma entrevista ao lendário Bento Rodrigues, jornalista da SIC.
Qual cão da morte a bafejar no meu pescoço, Bento lança-se a Ricardo com a seguinte e inaugural questão:
- No livro que escreveu, diz que cortou relações com Vítor Baía, depois de uma entrevista dada por este, em Julho de 2003.
- Boa noite. Bem, isso não é bem assim. O Ricardo não corta relações com ninguém.
- Peço desculpa, Ricardo, mas isso está aqui escrito.
- Bem, o que está escrito, está escrito. Se bem que não fui eu quem escreveu isso.
 
Depois deste grand finale, só me resta comer, de rajada, um quilo de cerejas da Cova da Beira e ir jantar com o meu amigo Johann Cruyijf a Sitges. Ouvi dizer que as bifanas lá são deliciosas.  Para trás ficou um verdadeiro fim de semana lusitano.



14.7.04

BREVE TRATADO SOBRE JOÃO VIEIRA PINTO
pelo Professor Astrólogo Quarlos Eirós, Caramba!

1 – Introdução
A 19-08-1971, o Bairro do Falcão, no Porto, via nascer o seu filho mais pródigo: João Vieira Pinto. Não cabe aqui recordar o golo ao saudoso Karl Marx Stadt, marcado com as cores boavisteiras. Não cabe aqui recordar o Hotel Marbella. Não é este o espaço para lembrar a noite de 14 de Maio de 1994 e o 6-3 ao Sporting. Não é este o lugar para recordar a época de 2001-2002 e as assistências para Mário Jardel.

2- Objectivos
Esta pequena monografia toca, ainda que ao de leve, levemente, num aspecto fulcral na carreira de João Pinto, completamente ignorado pela maioria das pessoas: falamos, obviamente, do rosto, da visage, do frontispício deste jogador. Uma espécie de Dr Jeckyll e vários Mr Hydes da bola. Com efeito, a progressiva deformação do trombil de João Vieira Pinto há muito que merece um estudo. JVP é um caso sério de erosão temporal facial. Onde está o miúdo de ar dócil, porém paternal, que em 1991 foi ver as modas a Madrid? Onde está o jovem de ar sorridente que em 1992 se tornou na eterna grande promessa do futebol português para a Luz? Onde está o homem que, em 1997, com a gravata vermelha ainda mais pirosa que a do seu presidente (1), assina um contrato vitalício de três anos? A resposta é simples. A cara de João Vieira pinto mora nos cotovelos de uma pessoa chamada João Paulo Maio Santos, aka Paulinho Santos.


3- Exemplos e Teorias
Atentemos no seguinte quadro pintiano que aqui publicamos em exclusividade:


Fácil é a descoberta de uma divisão em três momentos, três estádios da involução do rosto de João Pinto.

O primeiro estádio, o Iniciático, entre 1991 e 1994 (fase pré espancamento pauliniano) mostra-nos um jovem rapaz robusto, esperto, com confiança num futuro melhor para ele, para a humanidade e para o futebol português. Transpira-se confiança e vontade de vencer.

O segundo estádio, o Intermédio, datado de 1996, mostra-nos um homem que já tem menos confiança que nos anos e estádios anteriores e mostra, inclusivamente, as queixadas levemente descaídas para a sua direita, fruto de um primeiro contacto com o cotovelo de João Paulo.

O terceiro estádio, o Pós Moderno, mostra-nos um jogador cuja testa se auto alargou, ostentando uma cicatriz do seu lado direito(quiçá da murraça levada pelo mítico Sérgio Marquês num jogo treino com o Estrela da Amadora). Os queixos continuam a descair para a direita com a consequente perda de grossura do lábio inferior. Nestes anos, tempos houve em que a cara de Vieira Pinto era um autêntico batatal Pauliano. Primeiro o nariz, depois o maxilar inferior: o jogador do FC Porto esculpia uma ode caxineira no trombil do menino do Bairro do Falcão.
É nessa altura que João Pinto se imortaliza na História das Conferências de Imprensa em Portugal: de maxilar partido, o jogador, durante um mês, andou a alimentar-se apenas e só a líquidos. Instado a pronunciar-se sobre a sua diatribe com Paulinho Santos, foi-lhe colocada a seguinte questão: “está disposto a perdoar Paulinho Santos?” João Pinto, em visíveis dificuldades comunicativas, revira os olhos duas vezes, franze o sobrolho, e consequentemente, faz tremer todo o maxilar inferior. Da sua boca, numa articulação fonética compreensível apenas para os ouvidos mais apurados, sai apenas e só uma interrogação brutal: “Outa bez?”


4 – JVP Diabólico.
Proporcional e reflexamente à desintegração/envelhecimento precoce do rosto de João Pinto, nota-se, no próprio jogador, uma raiva cada vez mais contida (confirma a paz assassina na foto de 1998) aliada a um descontrolo e descompensação emocional prestes a explodir a qualquer momento (veja-se a prenunciativa cara do ano 2000 e diga-se se não dá para notar que o rapaz ia fazer asneira grossa em 2002?). Aliás, muitas são as vozes – incluída a minha - que não têm dúvidas em afirmar que João Vieira Pinto, ou pelo menos o seu corpo, se encontra, desde 2002, possuído por espíritos malignos, inclusivamente o do Diabo. Se não fosse assim, que diabo (lá está) poderia explicar as imagens que se seguem? Veja-se com atenção:

Imagem 1

João Pinto, possuído e completamente “cego”, tenta partir a perna em 3 sítios diferentes a um jogador coreano.

Imagem 2

Ao ver o cartão vermelho mostrado por Angel Sanchez, JVP lança-lhe um olhar assassino terrível, capaz de assustar os mais susceptíveis. O meu filho, ao ver este olhar, fugiu para o quarto, escondeu-se debaixo da cama e esteve um dia inteiro a chorar e a tremer e duas semanas com uma tosse cavernosa.

Imagem 3

Ao aperceber-se da irreversibilidade dos cartões vermelhos (facto curioso, é certo), JVP tenta atingir o rim esquerdo de Angel Sanchez e, de olhar exasperado, tenta abocanhar o nariz do juiz argentino, numa tentativa de o deglutir (a ele, juiz). Tal tentativa foi prontamente evitada pelo racionalismo cartesiano e frieza nórdica de Armando Teixeira Petit e Jorge Paulo Costa Almeida.

Imagem 4

Julho de 2004. João Pinto é apresentado no Bessa. Na conferência de imprensa, não consegue conter o espírito maligno que o habita e num diabólico gesto, fecha os olhos mantendo-os abertos. Estávamos no momento em que o jogador explicava que não asssinou por dinheiro. A imagem diz mais que mil palavras. Era mais do que um simples João Pinto que tínhamos ali à frente.


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(1)Só ultrapassável, a nível de parolice, pela grossa camisola cor de salmão usada por Norton de Matos, em pleno Julho de 2000 nos comentários ao euro belga-holandês. Tal momento e tal camisola mereciam, de per si, um post autónomo ou, até quem sabe, um blog.

5.7.04

Terceira Carta Alberta (Marques Fernandes) a Luís Filipe Scolari:

Lipe, man:

Antes de mais, os meus mais sinceros parabéns pela classificação alcançada no Euro 2004. Foi, objectivamente, a melhor. Foi, subjectivamente, a mais dolorosa. É sobre este ponto que te queria falar, uma vez que me parece que houve falhas clamorosas que estão directamente relacionadas com a derrota ante aqueles senhores cujo país deu ao mundo a convencionalmente designada de civilização ocidental. Primus: a Nelly Furtado não tinha nada que ir cantar antes do jogo (em playback). Está escrito em todo e qualquer manual de futebol que essas coisas dão um galo impressionante. Já assim foi no Portugal-França@euro2000.nl. Secundus: As Caravelas. Lipão, será que te devo perguntar o que aconteceu no dia 12 de Junho? Que elemento simbólico adornou a cerimónia de abertura antes do jogo com aqueles senhores cujo país deu ao mundo a convencionalmente designada de civilização ocidental? Estava-se mesmo a ver, Lipe, que isso ia dar um azar descomunal. Eu próprio, que não ligo muito a tragédias cuja nacionalidade é a do país que deu ao mundo a convencionalmente designada de civilização ocidental, mas ontem, Flip, toda a final tresandava a Pathos. Tertius: devias ter jogado com dois pontas de lança, pá.
Aceita um revigorante amplexo deste que te quer bem. Cumprimentos lá em casa.
Aurárcio Mélio

3.7.04

GRANDE GALA DE ANIVERSÁRIO DO FUTEBLOG TOTAL
O gigantesco Night Club Pub Bar "O Sevilha", em Santiago do Cacém, acolheu o jantar de aniversário do Futeblog Total. Presentes todos aqueles que lá foram. Aqui ficam as imagens.

Roberto Baggio não quis faltar a este jantar. À chegada, apenas uma pergunta dirigida a W. Monteirinho (à esquerda, com cara de enjoado): "Está aí o Paulo Sousa?"


Tudo começou com a actuação do Coro de Existencialistas do Cacém, em grande interpretação de "Allez, allez, allez"


Chegada, apenas a tempo do jantar, de Augusto e Idalécia Justo. "Esqueci-me do telemóvel e tive que voltar a casa", justificou, emocionado.


Imagem da magnífica sala de jantar. Na ementa, rojão do minho e a inevitável bifana servida pelo Bigodes, de Leiria.


Augusto Justo, visivelmente inchado depois de ter comido três quilos de rojões, discursa para os mais de mil pós modernos que apareceram para jantar.


Seguiu-se a festa na discoteca "O Papagaio", numa das maiores concentrações de Lyotardianos de que há memória.
Quarlos Eirós entrou em coma alcoólico às 3.17 (ao fundo, do lado esquerdo)


Gertrudes Steiner Eirós e Cacilda Mélio em pleno êxtase existêncial (depois de uma leitura de Kierkegaard misturada com vodka tónico). Ao fundo, dois jovens desconstrutivistas discutem a Geometria de Lobanowsky, numa diatribe que acabou com o espancamento do jovem à esquerda.

MAS AFINAL, O QUE RAIO É O PÓS MODERNISMO?
Discurso proferido pelo Senhor Professor Quarlos Eirós nas Cerimónias da Gala Comemorativa do Primeiro Aniversário do Futeblog-Total.

Excelentíssmo Professor Arquiteco Augusto Justo
Excelentíssimo Engenheiro Aurárcio Mélio
Excelentíssimo Doutor Roberto Baggio
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Malta,

Nas mais variadas ocasiões, desde uma simples ida ao supermercado até quando sou apanhado, em estados menos abonatórios para a minha pessoa, encharcado em whisky de Sacavém, sou abordado pelo cidadão comum que me pergunta, quase invariavelmente: "Quarlos, mas afinal, o que raio é o Pós Modernismo? Tu és Pós Moderno ou não?" Quando a ocasião possibilita a resposta, geralmente não penso duas vezes e desbobino uma conversa que tive com esse grande filósofo do futebol, José Rachão. Caminhávamos nós pelo pelado do União de Coimbra, o mítico campo da Arregaça, e discutiamos Sartre e o 4-2-4 no Fafe de 88/89, quando eu mesmo quis saber o que é que um génio incompreendido como Rachão pensava sobre o assunto. Perguntei-lhe: "Ó Gordo, como definirias o Pós Modenismo?" Rachão olhou para o céu, inspirou fundo, tirou o palito, escarrou para a sua própria barriga e disse, de uma assentada e sem vacilar: " Ò Mendes, defino-o como um conjunto diversificado de propostas, iniciadas nos anos 70 e 80, que de algum modo se afastam da modernidade racionalista. O eclectismo das propostas abrangidas integra no Pós-Modernismo situações diversas que tanto afrontam a modernidade como a completam. No que se refere ao futebol português, cito, entre outros, nomes como Spassov, Vitinha, Makalamba Katanga, Carlos Costa, Tueba, Toninho Metralha, Secretário, Futre e, mais recentemente, Fernando Aguiar, Baroni e Hanuch, que à racionalidade moderna contrapõem a monumentalidade, o historicismo e a exuberância das exibições. Repara tu, caro Mendes, que depois da euforia do futebol moderno internacional dos anos 50 e 60, surgiram novas propostas mais individualizadas, que se afirmaram, principalmente, durante os anos 70 e 80. Cruyiff, Neskeens, Lato e Arconada lá fora, Bento, Frasco, Dito, Venâncio e André Caxineiro cá dentro. O Pós-Modernismo no futebol, ò Mendes, liga-se à crise da modernidade, ou seja, à crise do funcionalismo. Os futebolistas passam a ter um novo olhar sobre o futebol e o adversário, retomando muitas vezes projectos esboçados pela táctica modernista de meados do século XX. O panorama contemporâneo apresenta uma enorme diversidade de propostas, que parecem já ter ultrapassado mesmo a fase contestatária do Pós-Modernismo. Em alguns casos, é a técnica que se afirma como estética, noutras é a geometria dos planos e dos espaços que se impõe, mormente, na escola Geométrica e Desconstrutivista de Lobanowsky. Butes ao Zé Porco malhar um rissol de carne?"
Fiquei petrificado. Apenas lhe consegui dizer que não me chamava Mendes. Nesse momento, senti que eu próprio era já um Pós Moderno.

MENSAGEM DE PARABÉNS DO PRESIDENTE DA FUTEBLOG TOTAL SAD(E ADU),
Sua Excelência Professor Doutor Por Extenso
AUGUSTO JUSTO

Cumpre-se hoje um ano desde que a nossa aventura pós bloguística se iniciou. No princípio era o verbo, a pós modernidade e o cêdê dos The Sonics a inspirar-nos pensamentos tão profundos como a dialéctica pós hegeliana da condição ímpar de Joaquim Teixeira no futebol lusitano. No princípio, tínhamos um sonho: desconstruir, qual Derrida, a lógica moderna do futebol português, com elegantes piscadelas de olho ao que lá fora se passava. Hoje, mais gordos, admiramos catedrais góticas e a subtileza metafórica do discurso dentado de Maniche, sem esquecer a apófase de Scolari. Enfim, o futeblog é istgo mesmo, dirão muitos dos quase dezassete mil leitores que tiveram a amabilidade de nos ler. Conforta-nos pensar que são mais que a lotação do Abel Alves de Figueiredo na também ela pós moderna Santo Tirso. A eles (leitores e Santo Tirso) o nosso mais sincero e lusitano “obrigados”, acoplado de um “voltem sempre e mandem bitaites”.

UM ANO DE PÓS MODERNIDADE TOTAL
Pois é. O Futeblog Total cumpre hoje o seu primeiro aniversário. Com este post, inicia-se a publicação de alguns textos alusivos à dita efeméride. E começa-se republicando a nótula de intenções, a página de abertura desta mesma ágora reflexiva sobre os grandes fenómenos e os grandes númenos da futebolidade, escrita pelos saudosos Irmãos Monteirinho. Já dizia o Mestre Espadinha "Rrrrrrrrrrrrrrrrroda o palco!" (eheheh, todos à espera do Recordar é Viver, certo?).

"Naquela praça suja, acercou-se de mim um rapaz com uma bola. Virou-se para mim e disse: "ò meu, podes marcar-me um penalty?" eu não pestanejei, retorquindo de imediato "põe-te na baliza, ò meia leca". Na altura, eu tinha um petardo descomunal e uma voz poderosíssima, de fazer inveja ao Roberto Carlos. Concentrei-me. Na minha cabeça, o estádio inteiro clamava o meu nome. Olhei o puto nos olhos, tomei balanço e mandei um estoiro monumental. Quando dei por mim, o puto estava estendido no chão com dois dentes partidos e eu não estava em estádio nenhum. Lentamente, o rapaz levantou-se e perguntou-me " forque é fe me fizefte ifto?". A única coisa que lhe consegui dizer foi "puto, o futebol é ifto mefmo". A bola, essa, estava no fundo das redes. Ao chegar a casa, telefonei ao Dino Baggio para lhe contar o sucedido. Dino, homem de bom tom, não hesitou e aconselhou-me de imediato a fazer este blog e a mudar de gravata.
Q. e W. Monteirinho. Vladivostok, Julho de 2003"

2.7.04

SEPARADOS À NASCENÇA
É verdadeiramente impressionista a semelhança entre estes três deuses, cada um na sua área, todos supinamente geniais.

Toy, "o Mozart do Sado"; Hervé "Da plein, da plein" Villechaize; Diego "Snif, snif" Maradona.