3.7.04

MAS AFINAL, O QUE RAIO É O PÓS MODERNISMO?
Discurso proferido pelo Senhor Professor Quarlos Eirós nas Cerimónias da Gala Comemorativa do Primeiro Aniversário do Futeblog-Total.

Excelentíssmo Professor Arquiteco Augusto Justo
Excelentíssimo Engenheiro Aurárcio Mélio
Excelentíssimo Doutor Roberto Baggio
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Malta,

Nas mais variadas ocasiões, desde uma simples ida ao supermercado até quando sou apanhado, em estados menos abonatórios para a minha pessoa, encharcado em whisky de Sacavém, sou abordado pelo cidadão comum que me pergunta, quase invariavelmente: "Quarlos, mas afinal, o que raio é o Pós Modernismo? Tu és Pós Moderno ou não?" Quando a ocasião possibilita a resposta, geralmente não penso duas vezes e desbobino uma conversa que tive com esse grande filósofo do futebol, José Rachão. Caminhávamos nós pelo pelado do União de Coimbra, o mítico campo da Arregaça, e discutiamos Sartre e o 4-2-4 no Fafe de 88/89, quando eu mesmo quis saber o que é que um génio incompreendido como Rachão pensava sobre o assunto. Perguntei-lhe: "Ó Gordo, como definirias o Pós Modenismo?" Rachão olhou para o céu, inspirou fundo, tirou o palito, escarrou para a sua própria barriga e disse, de uma assentada e sem vacilar: " Ò Mendes, defino-o como um conjunto diversificado de propostas, iniciadas nos anos 70 e 80, que de algum modo se afastam da modernidade racionalista. O eclectismo das propostas abrangidas integra no Pós-Modernismo situações diversas que tanto afrontam a modernidade como a completam. No que se refere ao futebol português, cito, entre outros, nomes como Spassov, Vitinha, Makalamba Katanga, Carlos Costa, Tueba, Toninho Metralha, Secretário, Futre e, mais recentemente, Fernando Aguiar, Baroni e Hanuch, que à racionalidade moderna contrapõem a monumentalidade, o historicismo e a exuberância das exibições. Repara tu, caro Mendes, que depois da euforia do futebol moderno internacional dos anos 50 e 60, surgiram novas propostas mais individualizadas, que se afirmaram, principalmente, durante os anos 70 e 80. Cruyiff, Neskeens, Lato e Arconada lá fora, Bento, Frasco, Dito, Venâncio e André Caxineiro cá dentro. O Pós-Modernismo no futebol, ò Mendes, liga-se à crise da modernidade, ou seja, à crise do funcionalismo. Os futebolistas passam a ter um novo olhar sobre o futebol e o adversário, retomando muitas vezes projectos esboçados pela táctica modernista de meados do século XX. O panorama contemporâneo apresenta uma enorme diversidade de propostas, que parecem já ter ultrapassado mesmo a fase contestatária do Pós-Modernismo. Em alguns casos, é a técnica que se afirma como estética, noutras é a geometria dos planos e dos espaços que se impõe, mormente, na escola Geométrica e Desconstrutivista de Lobanowsky. Butes ao Zé Porco malhar um rissol de carne?"
Fiquei petrificado. Apenas lhe consegui dizer que não me chamava Mendes. Nesse momento, senti que eu próprio era já um Pós Moderno.