Cacioli e Dinis: A sétima arte está nos relvados.
UM OLHAR DE PIMLICO
por José Meirinho, esteta viscontiano.
Estava num destes dias a preparar um ensaio sobre a influência da desmarcação circular no 4-1-3-2 queirosiano, quando me deparo com mais um spot publicitário protagonizado por essa figura pós moderna que dá pelo nome de Vinnie Jones. Este antigo skipper do Wimbledon, tornou-se na estrela do momento, aqui na velha Albion com as participações em "O golpe", "Snatch" ou "60 segundos". Questionei-me então sobre a razão pela qual a industria cinematográfica portuguesa ignora e desaproveita os ícones do pós modernismo que pululam no nosso futebol. Após uma noite mal dormida, dei por mim a imaginar que o futebol português tem sido, desde há muito, um filão inesgotável entregue à mineração furtiva de cineastas de todo o mundo.
Não haverá algo do crinisparso Dinis (ex-Beira Mar), na caracterização das personagens-tipo idealizadas por Emir Kusturica em "Gato Preto Gato Branco" e em "Underground"??
Não terá Oliver Stone, alertado para a carga dramática que envolvia os tombos dos irrequietos e martirizados avançados do Campeonato Nacional Português, enviado emissários a Portugal, em busca da queda mais convincente e que culminaria no inesquecível cair por terra do Sgt. Elias (Willem Dafoe) em "Platoon"?
Não é conhecida, por entre as vielas e becos mais recônditos de Faro, a presença de Scott Hicks - aquando de uma visita a um familiar, comerciante de artesanato regional em Porsches - nas bancadas do S. Luís que o inspiraram para o título de "Shine", em mais uma esplendorosa exibição do reluzente Cacioli, num soalheiro domingo de Setembro de 1995?
Alguém ficará admirado se num dos próximos trabalhos de Jackie Chan, este aplicar um golpe à Flávio Meireles?
Mas talvez fosse injusto dizer-se que será só o cinema a beneficiar desta relação. A própria moda tem uma palavra a dizer, como comprovam quer o efeito "Zoolander" na indumentária de Couto, Capucho, Sérgio Conceição, Caneira e de um modo geral na esmagadora maioria (ou esmagadoria, como diria Jorge de Brito) dos nossos internacionais "A", bem como o disparar do conceito de metrosexualidade no futebol português.