16.11.04


Nuno Espírito Santo: Nome de Banco, nome no banco. Amén.

FINTAR KARL MARX
por Aurárcio Mélio, economista, com a ajuda de
Morton de Natos, historiador.

Nuno Herlander Simões do Espírito Santo é mais uma das ímpares figuras que atravessam a última década da pós modernidade no futebol português. Perguntará o incauto leitor o que leva esta ágora reflexiva a tergiversar sobre esta figura translúcida?, obtendo como resposta, seca, o seguinte conceito: o materialismo histórico. Sim, é verdade. Nuno Espírito Santo representa, na arte do futebol, tudo aquilo que Marx e Engels revelaram, em 1846 na sua “A Ideologia Alemã”. Como qualquer proletário sabe, Marx desenvolveu uma concepção materialista da História, defendendo que o modo pelo qual a produção material de uma sociedade é realizada constitui o factor determinante da sua organização política. A base material ou económica é a "infraestrutura" da sociedade, que vai exercer influência directa na "superestrutura", que se traduz no conjunto de instituições políticas e ideológicas de cada época. Trocado por miúdos, die Grundidee des Historischer Materialismus ist dass die Geschichte nicht bloß eine relativ zufällige Abfolge von Ereignissen ist sondern dass sie gewissen Gesetzmäßigkeiten folgt: Als Motor der die geschichtliche Entwicklung vorantreibt werden die ökonomischen (materiellen) Umstände, und die daraus resultierenden Konflikte, angesehen. Der Historische Materialismus steht damit im Gegensatz zum hegelschen Idealismus, der Geist und Ideen als Ursprung der Geschichtlichen Veränderungen sieht, como é lógico.
E Nuno Herlander representa, na plenitude dialéctica marxista, este conceito de materialismo histórico. Ele é, ao fim e ao cabo, a antítese infraestrutural que permite a alguém ser sempre a síntese nas balizas.
Senão vejamos: formado nas escolas do Vitória de Guimarães, Nuno é lançado às feras no ano de 1994/95, pela mão de Joaquim Lucas Duro de Jesus, vulgo Quinito. Num ápice torna-se no "next big baía" do luso futebol, confirmando o seu estatuto de seleccionável, afirmando-se como um dos grandes vultos do futuro das balizas portuguesas. Em terras de Afonso Henriques conseguiu diminuir o número de síncopes cardíacas cada vez que havia um canto contra o Vitória e já não (ou ainda não) havia Neno nas saídas. Duas épocas de afirmação e um futuro risonho pela frente. Cobiçado por Porto, Sporting e Benfica, opta, com alguma lógica, pelo chamamento corunhês. Estavamos em 1996/97 e Nuno não resiste às pesetas e parte atrás de um sonho: roubar a titularidade a Petr Kouba (finalista do Euro 96) e a Jacques Song’o (mítico lion indomptable). O resultado? Um ano a ver jogos nas bancadas do Riazor, salvo honrosas e esporádicas excepções e velinhas acesas na catedral de Santiago de Compostela para o sempiterno Song’o arrumar as botas. Dois anos depois de ser por dois anos seguidos o terceiro guarda redes do Depor, Nuno começara a perder alguns dos reflexos básicos de um normal guardien de but (há quem diga que se esquecia sempre que não podia agarrar a bola com as mãos quando lhe era endossada por um companheiro de equipa com o pé). As irritantemente seguras exibições de Kouba e Song’o começavam a tornar-se monótonas e kantianas. É então que, movido pelo conceito de força de produção marxista, decide rumar ao Mérida e ao Osasuna, onde, esquecido por todos (dirigentes do Depor incluidos, que entretanto vão contratar Molina), recupera a alegria de jogar ao domingo e a tristeza de ganhar substancialmente menos pesetas do que nas terras de Crunia Maris. Uma dúvida metódica e dialéctica assola-o: "se jogo não ganho, se ganho não jogo". Nuno opta, em simetria com uma concepção materialista que fez história, pela segunda asserção: "não jogo, mas os meus cofres não páram de encher". A produção material de Nuno leva-o a concluir que as diferentes formas de estar no banco de suplentes determinam o seu ser e o pensamento do seu ser. É esta lógica de inegável proficuidade económica – numa altura em que Nuno finta Marx e adere a um capitalismo selvagem - que o faz rumar, depois de mais uma época "en el dique seco", para o banco de suplentes do Futebol Clube do Porto. Nuno tem um sonho: destronar Vítor Baía da baliza portista e da baliza lusa. Uma vez que Santiago não ouviu as suas preces aquando da passagem pela Corunha, acaba por virar-se para o S. Bentinho, talvez porque pelo menos esse tem sempre a porta aberta, nem que seja a da titualridade. Infraestruturalmente, vence tudo que há para vencer sem o menor esforço, é campeão europeu sem o ser. E no final do mês, siga para bingo. Nuno é a força de produção que permitiu a nomes como Kouba, Song’o, Molina e Baía serem os grandes guarda-redes que foram e são. Sem Nuno a oferecer-se-lhes como antítese, a esvoaçar a titularidade como a gaivota esvoaça o peixe na lota, nada disto acontecia. Daí a nossa profunda admiração por um guarda redes com nome de e para o banco, economicamente calculista, que nos últimos dez anos passou sete a aquecer bancos de suplentes de clubes grandes. Ele há predestinados. Como dizia o ditado hegeliano, "mais vale ser rico e saudável que pobre e doente".

1 Comments:

At 11:01 da tarde, Anonymous Anónimo said...

ONuno Espirito Santo esteve hoje na sport tv a comentar o jogo porto-chelsea. É este, a fotografia não engana

 

Enviar um comentário

<< Home