15.3.05


Luís "O Desconstrutivista Triplo" Campos: O Beira-Mar 'tá lá quase.

CARTAS DOS LEITORES POPPERIANOS ou o FUTEBLOG TOTAL FEITO PELOS SEUS LEITORES

CAMPOS DE RESPOSTA

Escreve-nos da longínqua China o prezado popperiano José d'Alcouce e Dafundo, remetendo-nos uma missiva problematizante, iniciada com uma analepse - o que é sempre de saudar - que ousamos publicar na ítegra.

Exmo Senhor Professor Doutor Augusto Justo:
Lembrar-se-à concerteza, caro colega, das afirmações proferidas pelo Desconstrutivista Clássico Luís Campos a propósito do jogo Gil Vicente - SC Braga? Recordo-lhas:
"A mim ninguém me cala! Não me chamo Marcelo Rebelo de Sousa! Não me vão calare (sic)! Sou um homem de tomates! Aguento com tudo! Vou prá frente! 'Tou lá!"
A respeito destas afirmações, e complementando o seu portentoso artigo - que me fez lembrar um carrinho de Fernando Aguiar, devo começar por dizer que é facilmente sensoriável o ímpeto descontrutivista da afirmação pela negação. Mais original e penetrante é a identificação telúrica de Campos, não só porque "verdes são os campos", mas pela singela homenagem que faz a todos os homens e mulheres de Portugal que cultivam se prestam à cultura do tomate. Contudo, queria sublinhar o ritmo e a semântica gardativa desta peça literária: começa pela negação, esclarecendo, qual poeta Manuel Alegre, que a poesia é uma arma e que a voz da luta pela emancipação do lumpen proletariat jamais será silenciada. Logo de seguida, esclarece um equívoco com que se via confrontado diariamente quando passeava pelas ruas de Barcelos, alturas em que era abordado com a questão: "Ouça lá, você não é o Marcelo Rebelo de Sousa?". Perante esta pergunta, Luis Campos hesitava e socraticamente respondia: "Só sei que nada sei minha senhora. Saudinha é que é preciso". De seguida, continuando na deriva da negação da identidade, desconstruindo axiomas que se encontravam imanados nos espírtos mais tacanhos, exclama, novamente que não se vai calar, introduzido uma dimensão pleonástica a um discurso que, rejeitando os pilares da modernidade, questionando abertamente o teocentrismo espistemológico dos comentadores de futebol que ditavam a falência do seu modelo, abre caminho à afirmação do eu através da negação. Da reminiscência à la José Régio quando nos diz que "Não sei para onde vou, só sei que não vou por aí", Luís Campos passa para o âmito da enunciação categórica, quase-Kantiana, em quatro tempos: "Sou um homem de tomates! Aguento com tudo! Vou prá frente! 'Tou lá!". Repare como o relativista pós moderno se reveste de imediato numa plasticidade inaudita, em clássico da narração das fundações da masculinidade marialva, herculianismo incondicional, vanguardismo progressita e simplificação da alocutória a dois símbolos que prjectam nao apenas um Significado mas também uma identidade e um sentimento de pertença: "Tou lá". Vê-se.
Aceite, caro amigo, o meu mais inquietante amplexo.
Sou,
José d'Alcouce e Dafundo

11.3.05


Luís "Aí vai outra" Campos: A caminho de se tornar no mais recente mito do futebol português.

VERDES SÃOS OS CAMPOS, VERDE ESTÁ O CAMPOS
Por Augusto Justo, Camponês.

O futebol português, quer se queira, quer não, já tem um novo mito. Falamos, como é demasiado óbvio para o meridiano leitor, de Luis Filipe Hipólito Reis Pedrosa Campos, que, apesar dos seus tenros quarenta e um anos, se assume desde já como a next big thing do pátrio futebol, transcendendo mesmo as fronteiras de qualificação pós moderna que este blog está habituado a fazer. Aliás, segundo a válida opinião de muitos filósofos (entre os quais José Pacheco Pereira), Campos é o Pós Modernismo (o bold é nosso).
Nascido em Setembro de 1964, na pacata Fão (um nome que dá gosto pronunciar), vila reputada pelas suas supinamente deliciosas clarinhas, Luís Campos licenciou-se em Desporto e decidiu, como muitos jovens da sua idade licenciados em Desporto e não só, ser treinador de futebol. A sua carreira inicia-se no Esposende (paredes meias com Fão), na época de 1994/95, conseguindo levar os Encarnados do Cávado a um honroso 4º lugar na Segunda Divisão B. A ascensão fulgurante do Esposende leva-o para a pós-industrial Vila das Aves onde orienta o Desportivo local na Liga de Honra. Duas épocas na Vila onde o Ave é azul, um regresso ao Esposende, contrariando Pavese e o seu “não há lugar mais inabitável do que aquele onde se foi feliz”, o correspondente estalar do chicote, um salto até Leça, outro até Penafiel e por fim a estreia na primeiríssima liga. É aqui que Luís Campos começa por se assumir como um personagem peculiar. Estamos no ano de 2001/2002 e Campos orienta nos campos o Gil Vicente. Meia dúzia de jogos engraçados e a imediata colagem à lendária nouvelle vague de treinadores portugueses, colagem essa que Campos não refuta. Antes pelo contrário, a vai alimentando com um empirismo optimista próprio de quem andou a ler David Hume ou já tomou café no Els Quatre Gats em Barcelona.
Eis-nos, então, na memorável época de 2002-2003, idade da luz e das trevas do esplendor Campesino. Continuando a colagem aos nomes da verdadeira nouvelle vague de treinadores portugueses, onde José “Eu Fiz um Pacto com o Diabo” Mourinho ia espalhando classe, Campos assume uma pretensa amizade com o actual treinador do Chelski. Em declarações ao Mais Futebol, profere mesmo uma asserção própria da escolástica da insegurança: «Tenho respeito e admiração como colega de profissão e amizade por uma pessoa com carácter, amigo e frontal (…). É um relacionamento que tem poucos anos, mas de amizade, e que tem vindo a crescer (…) José Mourinho estudou em Lisboa, eu estudei no Porto. Conhecemo-nos nos encontros de treinadores e nos cursos e a admiração entre um e outro foi crescendo aos poucos». Admiração esta que colheu a sua irreciprocidade na entrevista que Mourinho – adepto confesso da escola cínica – deu a A Bola em quase dois anos depois, em Janeiro de 2005, onde diz que só é amigo de Vítor Pontes. Estamos, portanto, perante um caso académico denominado pela escola inglesa de “one sided friendship”.
A época de 2002-2003 traria, porém, aquele que é por muitos considerado um facto heróico no futebol português: à pergunta “que treinador consegue descer de divisão não uma, não duas, mas três equipas na mesma época?”, a resposta é clara e é de Fão : Luís Campos. Com efeito, o treinador começa a cavar a sepultura do histórico Vitória de Setúbal, cidade de onde prontamente – mas não atempadamente - é saneado. Os mares gelados do norte e as clarinhas de Fão chamam-no para mais perto da sua terra natal, orientando, até final da época um Varzim que conseguira uma primeira volta poderosa, com Pepa, Hilário, Quim Berto e Mendonça em grande destaque. Campos encarrega-se de sepultar o caixão e tapar a urna, conseguindo descer os Lobos do Mar, facto saudado com foguetes em Vila do Conde. E chegados aqui, a pergunta impõe-se: e qual foi a terceira equipa que Campos endossou à liga de honra? Muitos especialistas ficam-se por estas duas, mas eu vou mais longe e digo a alta e viva voz: o Santa Clara. Vejamos porquê: dia 25 de Maio de 2003: o Varzim recebe a Briosa de Artur Jorge e o poeta impõe um categórico 3-0 aos Lobos do Mar. O Setúbal ex de Campos, alguns jogos antes, havia já assinado a sua sentença descendente. A permanência varzinista ficava adiada para a última jornada, a 1 de Junho, num duelo de aflitos com o Santa Clara, no Estádio de S. Miguel. Se o Varzim ganhasse, safava-se desde que a Académica perdesse, o que não aconteceu; se o Santa Clara ganhasse, os açorianos safavam-se; se empatassem, caíam os dois. Ora, que cenário mais Campesino poderia acontecer? Nada mais, nada menos que o famigerado, delirante, cósmico, supino e deleitante empate a dois golos. Num ápice, Luís Campos caía-se e fazia cair quem com ele estava, isto depois de já ter feito metade do trabalho em terras do Sado. Monumentalidade, epicidade e kamikazismo aumentados pelo facto de Campos continuar a colar-se a Mourinho e a uma nova forma de ser, estar, permanecer, ficar e continuar no futebol e, pior do que isso, continuar a ter oferta de trabalho na cidade de Barcelos na época subsequente.
Hoje, e depois de uma "debastada" em Barcelos com efeitos ainda por apurar, os actos transcendentais de Campos grassam na pacata Aveiro, onde a fórmula “Luis Campas” floresce e frutifica no Beira Mar, prenunciando mais um case study na profícua e curta carreira deste homem de Fão, odiado por muitos em Varzim, Setúbal, Ponta Delgada e na Veneza portuguesa e amado com um sorriso sincero por todos restantes que o pretendem ver longe dos seus clubes de eleição.


Universitatea Craiova 1982. De pé, da esquerda para a direita: Lung, Boldici, Negrila, Tilihoi, Stefanescu, Ungureanu. Em baixo, da esquerda para a direita: Balaci, Beldeanu, Crisan, Donose, Camataru. De notar a ausência do onze titular de Geolgau, Cartu e Irimescu.

RAZÕES DO LONGO SILÊNCIO
Os leitores que desculpem. Têm razão. Sim, eu sei que tudo são recordações, sim eu sei, que é triste viver de ilusões, contudo, razões de força maior, nomeadamente uma reciclagem filosófica e filosofante através da organização de um seminário dedicado à sistematização do pós modernismo, estiveram na origem deste período à la John Cage.
Assim sendo, como prova do nosso arrependimento, publicamos na íntegra o programa de conferências do Primeiro Seminário de Futebol Pós Moderno, ocorrido em Janeiro, na bonita cidade de Craiova, Roménia, e organizado pelo categórico cartesiano Pedro Mortimore e Sousa e pelo geriátrico Aurárcio Mélio.

1º PAINEL

Introdução ao Futebol Pós Moderno (Prof. Luís Campos)
•Metodologia, estrutura e componente técnico-táctica do Futebol Pós Moderno; distinção de figuras afins.

Teoria Pós Moderna das Sociedades Anónimas Desportivas (Dr. Dias da Cunha)
•“O sistema Pós Moderno”

Metodologia Cientifica Pós Moderna do Off-Side (Jorge Cadete)
•Off-Side “Uma regra ou um entrave à prática de futebol Pós Moderno?”

Catenaccio Pós Moderno Clássico (Giovanni Trapattoni)
•6-3-1 Pós Moderno Clássico
•5-4-1 Pós Moderno Clássico
•“Como fazer Pastéis de Belém Pós Modernos sem ovos”

Simulações e Ilusões de Óptica na Pós Modernidade I (Dr. Paulo Futre)
•Demonstração Práticas na Piscina da Universidade de Craiova

Premier League Pós Moderna I (Professor Doutor José Mourinho)
•“Depois de Deus, eu, e mesmo assim com algumas reservas”

2º PAINEL
História Pós Moderna do Futebol Internacional (Doutor Gabriel Alves)
•“Ducadan, Rinat Dasaev, e Baston – Expoentes do Futebol Pós Moderno nas balizas”

Dirigismo e Neo Realismo (Reinaldo Teles)
•Visitas guiadas a centros Pós Modernidade

O Tackle Desconstrutivista (Paulinho Santos)
•“Como partir um maxilar com pós moderidade a fazer um tackle”

Simulações Pós Modernas (João Vieira Pinto)
Como cair e agredir discretamente um árbitro em simultâneo

O Calcio Pós Moderno I (Gigi Del Neri)
•4-4-2 Pós Moderno “Como não jogar pelas faixas laterais”
•”Como receber indeminizações Pós Modernas após chicotadas psicológicas”

A Chicotada e o Existencialismo de Sartre (Prof. Carlos Queiroz)
•“Como entrei e saí do Real Madrid: dúvidas, angústias, zidanes e pavones”

Estruturalismo e Objectivismo no Futebol (José Rachão)
•“O exemplo do subjectivismo confusionista (sic) de António Folha: um case study”

3º PAINEL
Iniciação da Revienga Pós Moderna I (Menino Cristiano Ronaldo)
•“A Arte de partir um rim com os pés”

História das mais famosas selecções Pós Modernas (Luis Scolari / Franz Beckenbauer)
•“Uruguai 1930, Camarões 1970 (aquele fabuloso pontapé de livre pós moderno), Canadá 1986 e Grécia 2004".

Filosofia Pós Moderna do Futebol (Doutor Rui Tovar)
•“De Kant a Sir Bobby Robson: 250 anos de filósofos Pós Modernos: História, Memória e Teorias”

Sociologia Pós Moderna do Futebol (José Eduardo/Professor Neca)
•"O futebol Pós Moderno tem uma intensidade plástica fora do vulgar"

4.3.05


UMA SENTIDA VÉNIA, UMA FURTIVA LÁGRIMA
O Futeblog Total regressa, ainda que furtivamente, para assinalar a partida de um dos seus - senão o maior - inspiradores: Mestre RINUS MICHELS, o General, o Esteta, o Inventor do Futebol Total, deixou-nos ontem, aos setenta e sete anos. A ele devemos conceitos como a beleza da polivalênecia, a amplitude do losângo mágico, a superioridade moral, humana e artística do Futebol Total. Depois do adeus de Lobanovsky, a partida de Michels simboliza o fim de uma era no Futebol. Foi-se a escola geomátrica Soviética, vai-se a escola Total da Holanda - escrevemos enquanto recordamos a mítica final de 88 em que estes dois sistemas se defrontaram e Belanov falhou o penalty. Resta-nos o consolo de Tele Santana e do Futebol Arte do Brasil, desaparecido também ele em Espanha, numa quente tarde do verão de 1982.
A Rinus Michels, um obrigado profundo. Curvamo-nos perante a sua memória.
Aos leitores, a promessa de um regresso em grande dentro em breve.