19.10.05



O MUNDO PÓS MODERNO DOS EMPRESÁRIOS - CASE STUDY # 1
por Augusto Justo, Joalheiro

De Damian Alcides Bazan pouco se sabe. Médio volante argentino de obscura reputação, terá nascido em Buenos Aires, a 12.8.1967. A sua carreira, segundo rezam os cronistas, será quase tão sibilina como a sua própria personalidade. Bazan, esforçado tecnicista, terá deambulado pelos relvados do Deportivo Merlo e do Atletico Coria.
Mas o que nos leva até Merlo, Buenos Aires, e à carreira de Damian Alcides Bazan? Porque falamos dele aqui e agora? Porque sentimos, desde já, um arrepio na espinha quando ouvimos o seu nome? Não será, certamente, pelas semelhanças fonéticas com Kazan, Elia, grande mago da sétima arte. Bazan, Damian, não foi um mago da décima arte – o futebol – nem por lá andou perto.
Falamos de Bazan porque, numa tarde soalheira de Junho de 1996, Damian embarcou num avião com destino a Portugal. Ao seu lado, o confiante e sorridente empresário que, graças à sua boa agenda de contactos, conseguira que Bazan assinasse por um Sporting de Portugal. Damian Alcides, um miúdo de dezanove anos, nem quer acreditar. Vai jogar num grande de Portugal, essa vitrine encantada para o mercado espanhol e italiano. Na bagagem, leva apenas o sonho, um guia de Lisboa e a vontade de vencer.
À chegada à cidade das sete colinas, Bazan entra num carro. “Vais já treinar, miúdo”, ter-lhe-à dito o sempre sorridente empresário. A viagem tem como destino o estádio do Sporting. Bazan não esconde o sorriso inicial, que vai esmorecendo à medida que as horas passam e o estádio não aparece. Em seu lugar, o verde dos campos, o interminável verde dos campos. Horas depois, Bazan está no estádio do Sporting. Mas não do esforçado, dedicado, devoto e glorioso Clube de Portugal. Antes do sobrevivente Sporting da Covilhã. Bazan nem quer acreditar. O empresário sempre sorridente, bate-lhe nas costas. Na mão, o cheque com a comissão. Entre um continuado sorriso e um ar paternal terá dito “este também é Sporting, miúdo. E se trabalhares bem aqui, ainda podes ir para o outro”. Bazan não esconde a sua frustração. Burlado categorica e pós modernamente, permanece um ano em terras montanheiras, onde faz seis jogos e um golo pelo Sporting local. Ter-se-à lembrado, frequentemente, das palavras do seu compatriota Jorge Luis Borges: “A uno le suceden cosas y uno las va entendiendo con los años”.