Beto celebra efusivamente um não-golo marcado ao não serviço do Real Madrid
O MUNDO PÓS MODERNO DOS EMPRESÁRIOS - CASE STUDY # 2
por Augusto Justo, Inequívoco
No mundo dos empresários pós modernos, existem os bons e os maus. Os vigaristas e os probos (que lavram no rio). Existem, igualmente, os parafenomenais inempresários. O caso seguinte – verídico, tal como o do post anterior – relata, empiricamente, a acção ou a inacção de um inempresário.
Roberto Luís Gaspar Deus Severo nasce em Lisboa no ano de 1976. Iniciado no Pontinha, junior no Sporting, teve passagens pelo Lamas e pelo Campomaiorense. Em 96, no mesmo ano em que Bazan ia para a Covilhã, Beto fixa-se no Sporting de Lisboa e de lá mais não sai. Vinte e quatro jogos numa época são suficientes para que os jornais falem em “mais um caso de sucesso das escolas do Sporting” que “começa a despertar interesse pela Europa fora”. Por “Europa fora”, entenda-se, apenas e só, o Real Madrid. “O Beto vai para o Real Madrid”: eis-nos perante um dos maiores hypes do futebol português, levados a cabo por um não empresário. Esta é uma frase seminal, que preencheu conversas intermináveis em leoninas noites de verão. Ano após ano, verão após verão, a hipotética ida de Beto para o Real Madrid foi um fenómeno tão certo como a ida a banhos para a Figueira da Foz de qualquer boa família de Coimbra. O fenómeno transformou-se em costume e qualquer Verão só se assumia em pleno quando um jornal desportivo anunciava a ida de Beto para o Real, muitas vezes por troca com Rodrigo Fabri ou mesmo Sávio. E Beto lá ia rejubilando, de sorriso rasgado, qual jovem argentino. “É um sonho”, dizia ele. A não ida de Beto para o Real fortalecia o central enquanto referência sportinguista de eleição. “Se ele nunca vai para o Real, é porque é mesmo do Sporting”, atiravam muitos pós modernos de bancada, sem pressentir a inacção do não empresário de Beto. Ano após ano, o central tornou-se um símbolo leonino, à frente de nomes como Sá Pinto, Tello, Pedro Barbosa ou mesmo Mário Jardel. Até que chegou o fatídico mês de Junho de 2005 e nem uma notícia. Seguiu-se Julho e Beto continuava de pedra e cal no Sporting. Nem um rumor, sequer. Nove anos depois da primeira acção de um não empresário, Beto ficava no Sporting e o estio leonino não mais foi o mesmo. Os resultados da equipa e o próprio comportamento do central falam por si. Se dúvidas havia, ficam por terra: o Sporing está como está porque, pela primeira vez em nove anos, Beto não esteve quase a ir para o Real Madrid. Tudo isto graças a uma não acção de um inempresário.
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