22.9.05


Pedro Alexandre, 1991.

REGRESSAR É PRECISO - 1
Por Augusto Justo, Chairman of the Board

"Apesar de todas as aporias de início de época, prometemos um Futeblog Total disposto a lutar pelos lugares cimeiros da pós modernidade blogoesférica". É com soundbytes destes que se fazem os grandes começos: portanto, aqui estamos nós para mais uma época desportófica ou filosotiva, depois de termos feito render o piscis do simpósio e deambulado entre Aberdeen e a Gronelândia.

Este início de época filosófica merece-nos alguns remoques: em primeiro lugar uma efusiva e venial saudação ao grande Pedro Alexandre dos Santos Barbosa, que se retirou das lides do futebol. Portugal perde um “grande artista”, um Bartleby de ocasião, perde aquele que poderia ter sido o melhor futebolista da sua geração se não comesse “muitos croissants”, nas sempre sábias e supinas sílabas do simpalhão (bela aliteração do ésse, hein?) Quinito, seu treinador e mentor no Vitória de Guimarães. Qualquer cabo raso do futebol soube, sabe e saberá sempre que se Pedro quisesse, teria sido o melhor. Mas não. Pedro Barbosa não foi o melhor porque não o quis. E é este voluntarismo negativista que faz de Pedro Barbosa um dos grandes ícones da Pós Modernidade Artística do Futebol Português.
Pedro, Pedro Alexandre, Pedro Barbosa ou só Barbosa (conforme as épocas: os dois primeiros nomini reportam-se aos tempos do Vitória, o terceiro ao tempo do Sporting e o quarto ao tempo de Gabriel Alves) teria ainda muita arte para oferecer ao futebol se jogasse com contratos de um ano, com outro de opção e se quissesse ver essa opção activada. Durante décadas, o seu futebol foi bonito e intrigante como a queda ziguezagueante de uma folha de plátano. Parecia que Pedro jogava sempre a trautear a chansong de Jobim e Sinatra, This Happy Madness: "What should I call this happy madness all this unexpected joy / That turned the world into a baby's bouncing toy". A Pedro Barbosa devemos um dos mais antológicos golos da nossa Selecção, apontado naquela noite fria de 22 de Fevereiro, em Eindhoven, no ano de 1995. Obrigado, Pedro, e volte sempre.





REGRESSAR É MESMO PRECISO – 2

Por Quarlos Eirós, Old Blue Eyes Is Back
Estes olhos azuis lacrimejaram de comoção quando receberam este belíssimo postal amigo. Há gestos inolvidáveis, e este é, seguramente, um deles.




Serzedelo-Pevidém: mais do que um jogo da bola, um desafio semiótico. [Foto:D.R]

REGRESSAR É MESMO MUITO PRECISO – 3
Por Augusto Justo, The Voice.

Regressar é mesmo muito preciso, nem que fosse só para denunciar mais um caso de gigantismo pós moderno no nosso futebol. No passado dia 19, no campo das Oliveiras, em Serzedelo (arrabaldes ou subúrbios de Guimarães), a equipa do GD Serzedelo defrontou e venceu o seu arqui-rival GD Pevidém.
Para quem não sabe – mas devia saber – o ambiente intelectual, filosófico e desportivo que rodeia este derby é bastante superior ao que se vive num Barça-Real, num Inter-AC Milan (o mítico derby della Madoninna). Talvez só seja comparável ao que se passa nesse epicentro de situacionismo nihilista que é o futebol sul-americano. Com efeito, os famosos derbies distritais equivalem ao mais profundo far-west de tradição americana – no law and no judge – bem como à selvajaria anarquista de inspiração francesa – ni Dieu, ni Gendarme. Toda esta situação, em sentido amplo, afecta jogadores, árbitros, público, dirigentes, treinadores e roupeiros. E o Serzedelo 3, Pevidém 1 não fugiu à regra, sobretudo na categoria dos treinadores. A verborreia foi tanta e de tão grande qualidade, que não são precisas grandes explicações para o que se cita a seguir.
João Fernando – Técnico do Serzedelo: “é uma vitória justa perante uma equipa que leva uma filosofia de jogo e segue o conceito de vida do seu treinador. Para mim, um burro é sempre um burro, seja ele carregado de livros ou de ouro. Cada um que tire as ilações que quiser.”
Manuel Russo – Técnico do Pevidém: “Há dualidade de critérios porque se tiveram de expulsar o meu jogador, também tinham de expulsar outro jogador, o senhor Ibrahima. A partir daí eu ganhava este jogo. Uns gostam de coçar para dentro, como os macacos, mas eu gosto de ver as coisas como elas são.”
Palavras para quê?



Somos intelectuais ou não?

REGRESSAR É VERDADEIRAMENTE PRECISO – 4
Por Quarlos Eirós, Ente Lectual.

Durante as férias de estio, a blogosfera conheceu uma das suas mais densas discussões: A Intelectualidade e os Contadores de Visitas na Blogosfera Portuguesa, iniciada por Paulo Querido (um verdadeiro box-to-box do mundo dos blogs) e prosseguida pelo mesmo, por outros e por Jorge Vaz Nande (um playmaker destas andanças).
Por me encontrar distante da mundanidade da blogosfera, absorvido em pensamentos abstracionistas e teoréticos sobre o hedonismo do 4-3-3 de José Mourinho, abstive-me de comentar fosse o que fosse. Mas, a minha esposa Gertrudes Steineir Eirós (um nome muito intelectual), berrou-me, em alemão (lingua fundamentalmente intelectual) que o Futeblog-Total tinha sido chamado à colação (expressão usada por intelectuais) na supracitada diatribe, A certa altura, no blog de Vaz Nande, diz-se que – e cito de cor – “Não percebo - e continuo a não perceber, porque Paulo Querido não explicou - porque é que o recuo do "político" é o recuo do "intelectual". Afinal, poesia, ensaios e cultura soa-me a intelectual quanto baste. Além disso, os temas "futebol" e "sexo" não são incompatíveis com as ideias: o Futeblog Total e o xupacabras (ou o Fleshbot, para dar um exemplo não-nacional) provam-no”. Vaz Nande inclui, portanto, esta ágora no espaço restrito da intelectualidade, da idealidade no mundo dos blogs, o que nós agradecemos. Paulo Querido responde com um silêncio comprometedor, ao não colocar o Futeblog Total perto do Abrupto, do Casmurro ou dos Cahiers du Cinema, blogs da mesma família que o nosso. Mas, afinal, o que é um blog?
Esta discussão é um excelente exemplo da pós modernidade que extravaza as quatro linhas e se dissolve no mundo quotidiano. É para isso que cá estamos (frase ambígua, de fim de texto: será que estamos cá para o mundo quotidiano? Para dissolver? Para extravazar? Para nenhuma das razões anteriormente invocadas? Não sei. É para isso que cá estamos.)