26.9.05


AntoNito Rocha Vieira: a assimetria no corredor esquerdo.

E EIS QUE UM DIA SE FEZ LUZ
pelo excelso Faquir Steve Bull*

E eis que um dia se fez luz. E eis que esse dia foi hoje, vinte e cinco de Setembro do ano da graça de dois mil e cinco. Esse dia é o dia em que consegui finalmente traçar o rasto a essa velha glória da já esquecida Primeira Divisão (não confundir com a sensaborona Superliga Betandwin ponto com) que foi Nito. António Rocha Vieira, um filho de Ponte da Barca, aka Nito, o lateral esquerdo mais mítico que alguma vez espalhou o perfume do seu futebol pelo relvado verdejante do Estádio do Rio Ave Futebol Clube (familiarmente conhecido por Arcos).
É mesmo verdade. Ao fim de todos estes anos de pesquisa, eis que, de fonte fidedigna (o weblog do RAFC) venho a descobrir que o rapaz se fez homem, trocou a chuteira pelo sapato de vela, que mesmo sem pitons não escorrega na relva, e é desde a época transacta responsável técnico da formação minhota do Atlético Clube de Valdevez, clube que milita na também ela mui nobre 2ª divisão B – Zona Norte, escalão em que conseguiu na passada edição a tranquila 12ª posição. Pode parecer pouco, mas é do domínio público que a 2ª B Norte é a mais renhida das três séries que compõem este escalão, terceiro na hierarquia de valores do futebol português.

Mas voltemos ao Nito. Vamos ao “porquê? “ de tanta admiração da minha parte pelo agora técnico em questão. É por demais óbvio que não eram as suas capacidades futebolísticas que faziam dele um dos mais ansiados cromos de qualquer caderneta durante os seus tempos de escalão superior. Nito não era daqueles jogadores que se trocavam por um Lula repetido, ou por um Tulipa (mesmo que o possuidor do cromo desse jogador com nome de flor não o tivesse repetido). Se bem me lembro, no ano em que o RAFC enfiou três quase secos ao Sport Lisboa e Benfica o valor do referido autocolante disparou de tal forma, que era ver a malta do 7ºC a licitar o Nito repetido que era pertença de um gajo qualquer do 8ºD, num leilão em que o valor (record, sublinhe-se) se saldou em duas moedas de vinte, cinco rebuçados de dois e quinhentos (aqueles horríveis, de coca-cola), um Caccioli repetido e meia equipa do Estrela da Amadora, nos bons velhos tempos da camisa com o logotipo dos hipermercados Continente.

A verdade suprema quanto a tudo isto é bem simples e é agora desvendada àqueles que teimam em não perceber o porquê de tanto valor de um simples autocolante da Panini. Acontece que o Nito, ou mais concretamente a cara do Nito é mais assimétrica que um Picasso fase cubista inicial. Assim, tipo, “Velha Chorando”. Só que ainda mais.
Era ver o regozijo de tanto miúdo face à desgraça do homem, que só por via do salário chorudo que auferia (cerca de cento e cinquenta contos em dinheiro velho, o mais alto vencimento auferido por um atleta Alvi-Verde da altura) conseguiu sacar uma esposa, ao que parece também ela com um certo toque de surrealismo aplicado à face (nada que chegue à ex-mulher do Nuno Gomes).

Mas nenhum cromo conseguiu vez alguma apurar completamente o desastre facial de Nito tão bem como uma certa colecção de cartas de jogar, responsabilidade do Jornal de Notícias, corria a época de 1997/98 (que sucedeu à histórica recuperação da formação Vilacondense, que de lanterna vermelha da primeira volta, conseguiu ser campeão da segunda).
Voltando à referida colecção de cartas, a verdade é só uma: Nito estava colocado totalmente de frente para a objectiva, que captou como nunca a falta de coerência entre os dois lados da cara do próprio. Arrepiante ao ponto de justificar o abandono à nascença (facto não confirmado).

Eu possuo a referida colecção. E há-de chegar o dia em que irei digitalizar para a posteridade a tal carta do Nito que, refira-se, é o duque de paus. Mas por enquanto, permitam-me o egoísmo: retenho a imagem só para mim. Até um dia...

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*Velha Glória do Wolverhampton Wanderers, retirado do futebol desde 2001/2002 e desde então dedicado propalador da arte do faquirismo na vila das Caxinas.
Este texto contém partes ficcionadas com fins humorísticos, nomeadamente no que se refere ao vencimento do jogador em causa. É bem sabido que ninguém recebia no RAFC desses tempos.