14.7.05











Os militaristas José Cavra e Gilberto Mandamil foram os antepenúltimos oradores do mega simpósio do segundo aniversário desta ágora. Aqui fica a sua prelecção.

Senhoras e senhores, gente do futebol em geral, pós modernos em particular. É com grande ufania que estou aqui diante vós, neste dia tão importante que é o aniversário do Futeblog Total. Obrigado, Professor Doutor Augusto Justo por endereçar o convite à Malta da Tropa, para orar em tão nobre gala, você é um abnegado! E perguntam vocês: “Porque é que Augusto Justo é abnegado?” Meus amigos Augusto Justo é a personificação da pós modernidade, Augusto Justo fez mais pela pós modernidade do que todos nós juntos. “Augusto! Augusto! Justo! Justo!” (AJ levanta-se e recebe a uma sentida ovação) Certo dia o pensador Millor Fernandes afirmou que o futebol era o ópio do povo. Pois bem, hoje podemos referir o pós-modernismo como o ópio do futebol. Como seria encarado o desporto rei sem as portentosas figuras de um Marco Almeida, um Diogo Luís ou um Tonel? Algo de insonso , sensaborão, insípido. Enfim, um lote infindável de adjectivos que fariam o mestre Gabriel Alves ficar com água na boca. O pós-modernismo tem, como seus principais alicerces, factos que, por vezes, nos passam tão despercebidos como a passagem de Frank Rijkaard pelo Sporting. Ora é fácil para o adepto relembrar com saudade as míticas declarações do candidato à Câmara Municipal de Palmela, Octávio Machado, interagindo com todos nós para avisar da constante perturbação provocada pelos “Big Ladens”. Eu próprio não escondo a lágrima no canto do olho ao referir as sessões terapêuticas (ou nem tanto) oferecidas por Peter Schmeichel aos defesas da sua formação após um golo sofrido. Não ouso, no entanto, divagar sobre as contínuas tentativas de Brian Deane para tratar a bola por tu, pois para isso precisaria de discursar em mais 5 ou 6 simpósios promovidos pelo Augusto. Costumo dizer no seio do meu grupo de amigos e familiares que o futebol não é uma ciência exacta. Normalmente sou mandado calar com frequência nessas alturas, mas, nesse caso, dirijo-me de cabeça erguida para um banco de jardim com um livro de poemas de Ary dos Santos numa mão e com a biografia de Lazlo Boloni na outra. Dissecar o pós-modernismo exaustivamente é algo que não me atrevo a tentar, pois é difícil explorar de forma tão determinada o que é subjectivo. Porém não me canso de falar regularmente das destemidas saídas da baliza de Ivica Kralj (de meter inveja a Labreca) ou de repescar nas entranhas do futebolês a solidez entre os postes de Carlos Bossio. Ainda há relativamente pouco tempo fui interpelado em Leça da Palmeira por meia dúzia de idosas que queriam observar a apresentação da minha teoria acerca da limpeza do equipamento de Tamagnini Néné. Depois desta quantidade industrial de deambulações por esse mundo fora, é com satisfação que constato que ainda tenho muito mais a descobrir no que toca à vida desportiva. Confesso que ainda não consigo compreender casos como a queda livre de jogadores como Diogo Luís ou Akwá ou o súbito desaparecimento do mapa de craques como Gil, vencedor do Campeonato do Mundo de juniores em Lisboa. A presença assídua de Nuno Gomes dentro das quatro linhas é outra coisa que me remete para uma reflexão profunda. Um dos conceitos que mais me fascina é sem dúvida o do chamado “tosco”. O “tosco” está para o futebol como Sigmund Freud para a psicanálise ou como os Monty Phyton para a comédia “nonsense “. É o indivíduo que mais facilmente consegue soltar o riso da malta, sem que para isso tenha de recorrer à arte e audácia. É aquele sujeito que nos faz dizer “se a bola fosse quadrada, ele seria muito bom”. Apesar de ser um apetecível alvo de piadas, ele está sempre lá para animar o nosso quotidiano. O futebol inglês tem uma admirável quantidade desta espécie. Como exemplos dentro das nossas fronteiras podemos apontar expoentes nesta área como Karadas e Hugo. Muito obrigado, mas já nos estão a fazer sinais. O tempo deve ter ido acabar e a malta quer ir para os comes e bebes. Não se esqueçam de passar pela recepção e pedirem a vossa K7 do jogo das meias finais da taça entre o Vitória de Setubal e o Boavista.