7.7.05











O Professor Dupont tergiversa sobre um tema há muito esperado nestas lides:



O LEGADO DE ANDRÉ "CAXINEIRO"

António dos Santos Ferreira André veio a este mundo no dia anterior aquele em que os cristãos celebravam o 1957º aniversário do nascimento do carpinteiro da Galileia. Talvez a proximidade da data o levasse a aderir ao clube daquela terra que tem no Pescador da Galileia o padroeiro. Não sabemos.
O que é certo, é que André rapidamente se inspirou nas teorias pós-modernas que aprendera nas noites culturais das tascas das Caxinas e, muito antes de Lipovetsky, tratou de criar uma nova era do vazio na pesca da sardinha, pela utilização de uma inovadora energia mental. Infelizmente, o pessoal tripulante do barco de família não esteve para o compreender, quando André fazia a apologia da aplicação da entropia naquela área. André percebeu que estava fora do baralho da sueca lá do café quando alguém lhe lembrou «Enguia? Bem me parecia que eras um pescador de água-doce»
Transtornado, refugia-se na igreja da Senhor dos Navegantes, onde, com ajuda do Pe. Domingos, forma uma banda de música que fazia o encanto do senhor Padre… Mas, André, queria mais. O desconstrutivismo crescia a olhos vistos dentro da sua cabeça, a esse tempo ainda capilarmente protegida.
Foi então que encontrou João Morais, o herói lagarto de Antuérpia, definitivamente acantonado como porteiro do mercado de Vila do Conde. Fascinado pelas lições do mestre que havia dobrado de dor o Rei Pelé, André rapidamente aprendeu aquilo que iria intitular «Que se Lixe Derrida! Quero a desconstrução binária ao serviço do Homem. A explicação prática deste pioneiro esquema filosófico apresentou-a quando o chamaram ao Varzim SC, o clube que o havia de catapultar para os lendários anais da erudição caxineira. Em campo, ficaram famosas as suas famosas máximas: «se não partes a bola, parte o jogador», «primeiro o joelho, depois a bola» e, o créme de la créme, «a tua mãe é bem melhor do que tua irmã».
Pouco depois, André ascende ao Olimpo da sua particular visão desconstrutiva: as Antas, onde o capelão Pinto da Costa protegia as tropas do FC Porto. André não perde tempo em criar a internacionalmente renomada «Escola da Bila» e rapidamente arranja um sucessor e seguidor: o seu conterrâneo, Paulinho Santos. Phd. Não satisfeito, abre uma excepção geográfica para o jovem defesa Jorge Costa.
Mergulhado num mundo narcisista e pouco dado a estudos motivadores, André continua as suas leituras de Habermas e Lyotard, que haveriam de levá-lo a esse momento mágico da final da Supertaça de Futebol, decidida por pontapés da marca de grande penalidade. O seu FC Porto disputava o título com o outro clube que continuava na fase socrática do «eu só sei que nada ganho». André marca o seu penalty e Hélder, do SLB, avança para marcar o seu. Se falhasse, o Porto venceria imediatamente. E o jogador encarnado fica da cor de camisola quando falha rotundamente. A genialidade de André seria revelada no flash-interview, pelo desconstruído Hélder: «Quando ia a passar por mim, o André disse-me: “vais falhar, preto filho-da-p**a”. E eu desconcentrei-me, pá…»
O caxineiro haveria de continuar as suas teses radicais, sempre com a desconstrução em primeira plano. «Agora não sou André; desdobrei-me em António André. E, há cerca de um ano, dava uma entrevista ao jornal local «Terras do Ave», onde voltava a aproximar-se de outro grande pensador que havia influenciado a sua pouco conhecida faceta niilista: «sou caxineiro puro, puro». Relembram-se da desconstrução binária? Ei-la de volta. É claro que esta raça dos «puros, puros» só tem algum cabimento na construção desse mito do super-homem que André, secretamente, sempre desejou e Nietszche havia teorizado. Daí o desprezo, em campo e na vida, que André, desculpem, António André, sentia pelos jogadores adversários, impuros aos seus olhos, todos candidatos a um autógrafo seu, especialmente no seu local de preferência, o joelho.
Hoje, André, desculpem, António André, repousa sobre as resmas de folhas de apontamentos, em cujas bordas aponta a pontuação do jogo diário de sueca que joga no café de tendências líricas, «Clave de Sol», o que faz depois de sair do centro de estágio de V.N. de Gaia, onde lecciona, e de almoçar em frente ao mar, em Vila do Conde, no restaurante mais desconstrutivo da cidade, o «Crisupa», nome que brotou dos nomes “Cristina”, “Susana” e “Patrícia”. O tempo ainda lhe há-de dar razão.
António André, o verdadeiro homo-génio.