8.7.05










O excelso Doutorando Mestrando BONIFÁCIO DESFAÇO expõe, perante um público ávido de saber, de gnose e de ciência filosófica


A INFLUÊNCIA DOS ASTROS NA CARREIRA DE UM FUTEBOLISTA
OU UMA ANÁLISE ANTROPONÍMICA/FÁCIO-CAPILAR


Exmo. Senhor Presidente do Futeblog Total, meu Amigo Agusto Justo, Exmo representante da Alta Autoridade para a Comunicação Social, ilustres conferencistas, ilustres individualidades, minhas Senhoras e meus Senhores:


É consabido que os astros, nomeadamente as estrelas (de)cadentes têm particular influência na formação de uma carreira desportiva. Na verdade, estudos gnósticos apurados realizados pelo singelo escriba destes linhas demonstram à saciedade que o momento do nascimento de um futuro futebolista é que determina se o mesmo vai ser um novo Maradona ou o novo Serifo. Se as constelações estiverem devidamente alinhadas, a criança pode vir a ter apenas metro e meio de altura e ser mais gordo do que um texugo, que mesmo assim nada o vai impedir de se tornar no maior futebolista de sempre a nível mundial, quiçá sul-americano. O inverso fará com que um Adónis de metro e noventa faça o Fernando Aguiar parecer um artista plástico do pontapé da bola.

A influência das estrelas revela-se ainda nos nomes míticos que esses jogadores vão tomar. Mais importante ainda, revela-se nos capilares e nos “facies” dos artistas. Uma pesquisa metódica feita aleatoriamente nos jogadores abaixo descriminados não deixa margem para dúvidas. São eles José René Higuita, Roger Milla, Ronaldo de Assis Moreira (Ronaldinho Gaúcho) e Marco António MirandaTábuas.

O primeiro, colombiano. A Colômbia é um país fértil em acontecimentos astrais, sobretudo nos campos de papoilas. Esse facto, por si só determinou um nome tão sonante como este. Como as papoilas de que estamos a falar não são saltitantes, mas alucinantes, o menino René logo que pôde deixou crescer farta cabeleira encarolada, ou dito de forma mais adequada, enrolada. Não contente, pois a cosmografa impõe-se ao bom senso, já homem feito foi autor de façanha digna de figurar nos anais do futebol. Estou, como se recordarão, a falar da célebre finta falhada a Roger Milla e que ditou o afastamento da sua selecção do Mundial. Como Higuita nasceu com os apêndices cranianos virados para a Lua (mais uma vez, o cosmos a governar o caos), o seu destino não foi terrível, como o seu colega de selecção que marcou um autogolo. Fosse outro o alinhamento de planetas aquando do seu nascimento e Higuita seria certamente empalado em Bogotá. Os mais cépticos dirão que Higuita escapou a um destino trágico por ser compimcha de Pablo Escobar, mas nós, os estudiosos sérios, recusamo-nos a alinhar em teorias da conspiração.


O segundo tem a sua carreira umbilicalmente ligada a Higuita, como se referiu. Como sabemos, África é um continente famoso pelos seus fenómenos celestes, que fazem com que crianças de 10 anos pareçam homens de barba rija, aparentando 30 anos. Dizem as más línguas, mais uma vez desprezando autores afamados como o pobre signatário deste estudo, que o registo civil nesse continente não existe. Nada mais falso. Com a sua consciência cósmica sobredesenvolvida, os africanos sábios registam as suas criancinhas apenas quando há dez mudanças de Lua. Bom, mas isso são outras contas. Roger Milla, com quarenta anos, participou no seu último mundial. A cara, essa era a de um menino. Ora, aqui se prova o toque estelar. Milla é o único africano da história a aparentar ser mais novo do que a idade real. Dái os dentinhos da frente afastados, qual adolescente, quando, depois de marcar o tal golo a Higuita, sorriu para o Mundo.


Pondo agora a tónica naqueles que viram os astros traçar-lhes o “facies” e a cabeleira, um nome ecoa. Ronaldinho Gaúcho. Um dos jogadores mais feios da sua geração, com os piores dentes das últimas dez. Junte-se uma farta cabeleira e o nome idiota. Raras vezes os corpos celestes são tão exuberantes e eloquentes. Quando se conjugam estes três vectores, só pode resultar numa coisa – o escolhido torna-se o melhor jogador do Mundo, quiçá do Brasil.


Não se pense que a cosmologia é apenas aplicada aos outros. Por cá temos bons exemplos. Marco Tábuas é um caso gritante e estudado nas melhores escolas. Provavelmente concebido em dia de eclipse lunar, Marco nasceu no seio da família Tábuas. Tais factos conjugados, resultaram naquela peculiar carantonha esgroviada. Não fosse este autor ser sério, utilizaria certamente o trocadilho fácil, dizendo que aquela cara foi fruto de umas bordoadas com uma tábua... Ora, o que os dois astros em comunhão reservaram para este jogador? Pois claro, o posto de guarda-redes. Qual a melhor posição no rectângulo de jogo para assustar o adversário com um esgar do que essa? Imagine-se, se for possível, o Setúbal a defrontar o Inter Milanês. Adriano isola-.se, vai rematar. Outro qualquer guarda-redes provavelmente sucumbiria ao síndrome Fernando Mamede, vulgo borra, conformando-se com o seu destino. O nosso /case study/ ao invés, arreganharia a bocarra e o efeito seria uma espécie de buraco negro que engoliria o remate de Adriano, fazendo com que o mesmo fosse desviado para fora. Pena é que os olheiros deste mundo não sejam crentes o suficiente nestes fenómenos do oculto para o colocarem nas melhores equipas.


Este estudo já vai longo, mas não seríamos honestos o suficiente se não mencionássemos o paradigma Mamadu Bobó. Os escolásticos não conseguiram ainda decifrar um toque cósmico na conjugação impensável antropónimo “facies”qualidade futebolística. Os positivistas dizem que essa conjugação é por demais evidente. Confessamos termos inicialmente professado a segunda destas correntes. Todavia, uma dúvida nos assolava. Como poderia ter sido atingida semelhante perfeição, sem intervenção divina? Mamadu é, de per si, suficientemente arrebatador. Mamadu Bobó significa já a passagem do cometa Halley em dia de Lua Cheia, no preciso momento em que a senhora Bobó tinha a última contracção. Mamadu Bobó, com aquela fisionomia impressionista e quase barroca é o Santo Graal desta Ciência. Se a isto se juntar a sua genialidade futebolística dodecafónica, transcendemos da Ciência para o divino. Daí que tenhamos feito o mais duro e impensável trabalho de campo para tentarmos entender o mistério do Bobó. De passagem pela Stonehenge lusitana, também conhecida por Caldas da Raínha, descobrimos que afinal Mamadu Bobó e fruto de uma relação pouco bíblica entre um canalizador local e uma crioula, nos tempos da guerra colonial. O jovem guerrilheiro luso, com medo de, depois de voltar a Portugal, não reconhecer o seu rebento, resolveu dar-lhe um nome inconfundível. Na sua inocência, não poderia adivinhar que iria começar involuntariamente uma guerra intelectual e científica mais acérrima e sangrenta do que a que discute qual dos gémeos Calheiros é mais parecido com o mano Carlos.