6.7.05











João van der André, Professor da cadeira de Relatividade Técnica do 4-4-2 na Universidade de Delft, apresenta

SIM, ISTO É CIÊNCIA

É com enorme prazer que honro o convite que me foi feito pelo prezado Prof. Doutor Arqº. Augusto “Bifanas” Justo para escrever neste blogue. Sem dúvida que o cumprimento do segundo aniversário do Futeblog Total é um momento de assinalável grandeza, justificável por si só de uma tese de doutoramento pela Universidade Nacional de Dnepropetrovsk. O blogue assumiu já uma grandeza tal que mereceu que eu aceitasse este convite para escrever algumas linhas sobre a pós-modernidade futebolística, numa visão que, estou certo, será imediatamente objecto de uma requisição civil por parte de governos de diversas partes do mundo para ensinar nas escolas de treinadores, inclusivamente por parte dos Zés Mourinhos, Meirins, Couceiros e Peseiros.

Bom, feito o intróito, fica a indecisão. Sobre que assunto derramar o meu extenso conhecimento do mais pequeno pormenor futebolístico que seja? Sobre o uso de vernáculo pelos nossos heróis dos relvados? Sobre os clichés – palavra fabulosa de origem já mí(s)tica que merece ser considerada, de per si, um lugar comum – que pululam no futebol português? Bom, ficar-me-ei por um assunto que tem ocupado mentes brilhantes desde há várias gerações e que nunca foi explicado com completa clareza. Claro está que no final das minhas pequenas linhas, escritas entre uns sorvos de Grolsch meio morna e umas dentadas numa sandes de atum, qualquer aluno reptente da quarta classe estará em condições de arrumar com o infame Gabriel Alves para o banco, ainda que não possam, por ora, competir com a grandeza intelectual de um Rui Tovar. O assunto? Aqui fica na expressão incomparável pronunciada pelo meu pai, um Heidegger nunca reconhecido: «Porque car***o é que os gajos teimam em marcar cantos curtos?».

O tema é assim a utilidade pós-modernística do canto curto perante o tradicional cruzamento directo para a área. Sabendo-me superior aos autores deste blogue em praticamente qualquer assunto excepto na área da filosofia, limitar-me-ei a enunciar a minha sabedoria na área das ciências exactas – à excepção da geometria que, qualquer miúdo do nono ano sabe que a única certeza que dá é a da nega, ou não tivesse sido tocada por um filósofo.

À pergunta sobre a utilidade do canto curto, devemos responder com outra: qual o desenho quântico da colocação dos jogadores no momento da marcação do corner? Ora bem, sabendo que a física quântica é caracterizada pela estatística, não pela certeza – já o diziam o meu tio-avô alemão, Werner Heisenberg, e o meu primo britânico em terceiro grau, Paul Dirac – o que leva a que as certezas sobre os méritos que envolvem um canto tradicional sejam chutadas... precisamente para esse lado. Ora bem, na circunstância da forma unidimensional da expressão de Schödinger, que governa o movimento da bola para a área, podemos observar que um canto curto poderia cumprir a mesma função sem dificuldade, bastando para isso aplicar-lhe o seu equivalente físico: a notação de Dirac – excelente médio centro pelo Cambridge, de grande rigor táctico e excelente sentido estratégico – o que explica de forma fácil a preferência de diversos internacionais renomados pela chamada opção curta.

A excepção, como não poderia deixar de ser, vem do campo dos relativistas teóricos, para quem o espaço é curvo e a opção pode e deve passar sempre por um canto curvo, cesgado à baliza, numa tentativa do desvio ocasional – ou de vacança. Um dos maiores autores deste campo do conhecimento, António Morais, conseguiu inclusivamente ser o responsável pelo prémio da UEFA ganho pelo Grémio Relativista de Alvalade em 64, graças à sua dissertação sobre a curvatura em espaço prolongado de um objecto esférico a partir de ângulos fechados.

Há ainda o campo dos físicos mais recentes, como nos últimos anos João Magueijo no Imperial College de Londres ou um dos seus inspiradores, Heitor, brilhante professor brasileiro da Universidade dos Barreiros, no Funchal, para quem um canto ou um livre directo possuem a mesma entropia e levam o ponto –a bola – a deslocar-se a velocidades mais rápidas que a luz. Esta teoria, algo contestada porque pouco prática e difícil de aplicar ou até mesmo de explicar, tem ainda um revés que a torna pouco popular: é capaz de rebentar a cabeça do estudante mais aplicado ou do defesa mais arrojado. Pode, no entanto e em situações muito específicas, explicar tanto o Big-Bang como o facto de só ser necessária a coragem para meter a cabeça durante um canto para marcar golo. Pouco popular e prática, é certo, não terá a elegância de um E = mc2, mas não deixa de apresentar méritos.

Fica então dada a explicação simples e inequívoca para o fenómeno do canto curto, o que, creio, vem terminar de vez com este debate. Caso continuem a querer debater o assunto só vos posso recomendar uma viva leitura dos meus artigos na Annals of Football Physics.

Sem mais, fica o meu erudito amplexo com a esperança de nos vermos no próximo ano em Estocolmo.