E pronto; a desconstrução aveirense está praticamente completa.
CAMPOS GREGOS
pelo Professor Quarlos Eirós, de missonário.
Compreendi o potencial de Luís Campos quando fui seu professor de Tácticas de Futebol de Ataque e ele me apresentou uma equipa composta por um redes, quatro defesas (três deles centrais), cinco médios e quatro avançados (três deles centro). Ao confrontá-lo com o facto de estarmos na presença não de um onze inicial, mas sim de um catorze, Campos foi brilhante:
- Professor, um catorze? Quatro e um cinco, noves fora nada.
É com respostas sibilinas como estas que se vê a grandeza e o génio de um homem. Compreendi que Campos poderia ir longe, daí que não possa deixar de o vangloriar não só pela aplicação pós moderna dos alicerces do desconstrutivismo puro, como também pelo brilhantismo semiótico do seu discurso de demissão.
Analisemos os seus momentos altos: diz Campos que “Este jogo é a clara imagem daquilo que temos sido esta época: Inconstantes, imprevisíveis e irregulares”. Note-se a aliteração no “i”, bem como o recurso aos reflexos, muito caros a Umberto Eco, quando nos diz que o jogo transacto é a Imagem (o reflexo, a refracção) da época, imagem essa inconstante, imprevisível e irregular.
Depois, segue-se a anagnórise - o reconhecimento que vem aí complicação – ao afirmar que “de repente desabámos como um baralho de cartas”. Sublinhe-se a bonita imagem – mais uma vez - do baralho de cartas, que pressupõe que Luís Campos efectivamente edificou alguma coisa no Beira Mar pós moderno. Ora, este é um discurso crivado de ironia e fino sarcasmo. Como se sabe, Luís Campos não edifica nem edificou nada nos últimos anos. Pelo contrário, deixa fortemente vincada uma marca de desedificação, de napalm futebolístico. Não constrói rigorosamente nada, ou não fosse ele um desconstrutivista nato. Num processo orientador que fedia a pathos – lá estou eu a dar nos gregos – Campos volta a socorrer-se da linguagem dos espelhos (de certeza que leu o Eco), ao dizer que “Como reflexo do meu carácter e dignidade, estou aqui para assumir as minhas responsabilidades”. Mais fina ironia aparece quando nos confessa estar “orgulhoso do percurso que fiz”, ou seja, o mesmo orgulho que o fez entrar para o panteão dos nóveis pós modernos quando cavou a sepultura a três equipas primodivisionárias na mítica época de 02-03. Termina o seu diskurs voltando à carga das irónicas aporias ao contrapor o orgulho com a incapacidade (mais outra que começa por “i”), ao confessar que “tudo fiz da minha parte para inverter um cenário que já existia, mas não consegui”. Ou seja, Campos tem orgulho numa coisa que não conseguiu, o que grassa novos e contrários caminhos à asserção de Aristóteles no seu princípio da não contradição. Dizia o grego – os gregos, outra vez – que uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Campos tem orgulho num não facto, logo orgulha-se de não ter feito nada. Ou melhor, orgulha-se de ter desfeito o que Wadsworth e Cajuda começaram a desfazer: o legado de António Sousa. Simplificando, o princípio da não contradição diz que um juízo A não pode ser simultaneamente verdadeiro e falso. Violar este princípio seria, portanto, dizer que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo e na mesma situação (ou que um juízo A pode ser simultaneamente verdadeiro e falso). Por exemplo, dizer
Luís Campos tem orgulho no que não conseguiu
violaria o princípio da não contradição. Simbolizemos "Luís Campos tem orgulho" por P, isto é, substituamos todas as ocorrências de "Luís Campos tem orgulho" por P. Uma vez que " Luís Campos tem orgulho" implica ter orgulho em alguma coisa, em algum facto, em algum achievement, a afirmação " Luís Campos tem orgulho no que não conseguiu ", simboliza-se, então, assim:
P num não P
Mas pronto, não interessa. O que interessa é que o Beira Mar está quase na segunda divisão, o Gil Vicente treme que nem gelatina e se o Luís Campos for treinar o Moreirense e os cónegos descerem de divisão, eu juro que faço um busto do Luís Campos em bronze e o ponho na minha sala, ao lado dos quadros da Vieira da Silva, do Silva Resende, do Júlio Resende e do Júlio Cernadas Pereira. Aí sim, virá o Nirvana Pós Moderno.
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