Breves Considerações Fenomenológicas sobre a Selecção Portuguesa no Euro 2004
Por Augusto Justo, metatársico
Chegou o Euro e com ele a festa da pós modernidade. Lyotardianos, Lipowetskyanos e mesmo até alguns Prados Coelho passeiam-se pelas ruas, bebem as nossas cervejas e boçalizam-se connosco. Como presidente deste blog, tive a oportunidade de assistir in vivo às duas partidas da nossa portuguesische mannschaft. É sobre a condição pós moderna da Selecção Portuguesa que versa este ensaio.
Deco sim, pois claro.
1- CARTA ABERTA A FILIPE SCOLARI
Caro Luís(z) Fe(i)lipe Scolari:
Como tu bem o sabes, Lyotard rejeitou, sumariamente, a noção de Diskurs ou de consenso racional, afirmando que, com a desintegração da modernidade, o valor da nova consciência (pós-moderna) tornou-se destoante enquanto princípio de orientação. Mas tal repto à doutrina habermasiana da modernidade ganhou notoriedade como uma argumentação acerca da falta de credibilidade das concepções universalistas. Mete o Deco, o Crisnaldo e o Ricardo Carvalho de início e deixa-te de merdas, pá.
Um abraço,
Augusto Justo.
~Em caso de derrota,uma alheira de Mirandela em cada janela.
2- OS METADISCURSOS
“A impossibilidade de se submeterem todos os discursos (ou jogos de linguagem) ao domínio sintetizador de um metadiscurso, domínio esse universal e consistente, faz com que todos os dias tenha que beber três cafés logo pela manhã. Em homenagem ao nosso futuro ex-seleccionador, deixei crescer o bigode. Depois da derrota com a Grécia, tirei a bandeira da varanda e, pendurei em seu lugar, uma alheira de Mirandela.” As palavras pungentes de Quarlos Eirós levam-nos a pensar se
a) Scolari tem bigode?
b) Scolari percebe de futebol?
c) por 1200 Euros por mês fazia melhor que o brasileiro e ainda cortava a relva do centro de estágio.
d) o Metadiscurso é o Deco?
e) o Deco é de Mirandela e não come alheiras?
A mulher de Smertin: não admira que ele queira voltar para casa.
3- TREINADOR DE BANCADA
“O novo Zeitgeist tem-se apoiado, sobretudo, na hipótese da não-contiguidade.” A nossa selecção não é nada contígua. Fica-se com a clara sensação que, se houvesse fase de qualificação para nós, nem no nosso próprio europeu estaríamos presentes, o que seria um factor fenomenológico de interessante estudo, um pouco à semelhança de Jacques Monteiro, esse grande pós moderno que, nas suas festas de anos, não se convida e muito menos se faz de convidado.
No lugar da exterioridade crítica – estratégia protocolar moderna – os jogos de treino com trezentas substituições e a convocatória de Rui Jorge esbateram as linhas de fundo que outrora eram claros horizontes. Há, claramente, um sentido de ruína a pairar no ar. Pluralismos trôpegos passaram a infestar este cenário. Cada português tem um Sven Goran Eriksson dentro dele. E mesmo o nosso seleccionador parece ser dos treinadores de bancada mais bem pagos do mundo. As implicações dessa postura, no caso do jogo contra os gregos, chegaram a ser avaliadas por alguns como ‘catastróficas’. É o que afirma, por exemplo, o citado Jacques Monteiro na sua apresentação do pensamento baudrillardiano:
“As catástrofes parecem representar (…) tanto a rebelião do mundo dos objectos contra as leis, expectativas e desejos do sujeito, quanto a tendência deste – e da natureza – a excederem a si próprios, a produzirem, espontaneamente, o espectáculo, a descambarem para o catastrófico.Eu já tirei a bandeira e, a partir de agora, verei sempre os jogos de Portugal com as mesmas cuecas que trazia no dia do jogo contra a Rússia.”
Scolari:Luiz Felipe, Luís Filipe, os dois ou nenhum?
4- EMBANDEIRAR EM ARCO
Charles Baudelaire disse um dia que "a modernidade é o transitório, o fugidio, o contingente, é uma metade da arte, sendo a outra o eterno e o imutável." A equipa de todos nós atingiu, clara e coerentemente, o seu esplendor pós moderno e circular, na exacta medida em que voltou ao seu “quietismo tanático” que houvera abandonado na era Humberto Coelho. Somos medíocres, claramente, mas a nossa mediocridade é superadora na exacta medida em que nos cremos os melhores do mundo. Eis os precisos limites do conceito de Embandeirar em Arco, que toca na Velosiana “tão depressa o sol brilha como a seguir está a chover” e que nos faz maldizer vernacularmente a nossa equipa depois da tragédia grega e apregoar aos quatro ventos a conquista do europeu depois de uma vitoriazinha contra a Rússia.
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