4.1.04


Vitor Oliveira (segundo a contar da direita, em baixo) no seu Portimonense, em 1985.
Nesta equipa pontificaram, ainda, o guarda redes Sérgio, Rui Águas (segundo a contar da esquerda, em cima)e o lendário Balacó (com a mãozinha positiva de Vítor Oliveira pousada, ao de leve, no seu ombro).

O FUTEBOL POSITIVISTA
por Augusto Justo Comte

No final do jogo que opôs Académica de Coimbra/OAF contra S.L. Benfica, para a Taça de Portugal, Vitor Oliveira era um homem desiludido com o resultado. Contudo, a derrota por uma bola a zero, não o impediu de, num rasgo apenas ao alcance dos eleitos, se imortalizar no panteão dos filósofos do futebol lusitano, ao proferir uma frase superior, arrojada, genial e inovadora. Disse o treinador que a Académica "precisa de praticar um futebol positivista". Uma frase, apenas. Um mundo inteiro que se abre para o futebol - e para a Académica - tal qual se abriu com "o importante não é interpretar o mundo, mas sim transformá-lo" de Marx, ou mesmo até "um pequeno passo para mim, um grande passo para a Humanidade" de Neil Armstrong. Aliás, arriscariamos dizer que, ao propugnar a necessidade de a Académica "praticar um futebol positivista", Oliveira deu um pequeno passo para ele e um grande passo para o futebol. Cabe-nos, a nós, interpretar um novo conceito: O POSITIVISMO NO FUTEBOL.

E o que é o positivismo?
O positivismo pode desenhar-se, em traços grossos, como a corrente filosófica proposta por Auguste Comte na segunda metade do século XIX. Em tal corrente, o espírito científico (ou positivo) vai substituir as crenças teológicas ou as explicações metafísicas, através de uma lei invencível do progresso do espírito humano. Ao tornar-se positivo, este renuncia à questão "porquê?", ou seja, renuncia a procurar uma explicação absoluta das coisas, limitando-se ao "como", ou seja à formulação das leis da natureza, aproveitando, por intermédio de observações e experiências repetidas, as relações que unem os fenómenos.

E o que será um futebol positivista?
Seguramente, será aquele jogo onde quer Comte, quer Alexis de Toqcueville (ou qualquer sociólogo, vg, Boaventura Sousa Santos) daria um excelente "carregador de piano". Para trás, ficarão os fantasistas metafísicos (Deco, Zidane, Kierkegaard ou mesmo um Padre). Será um futebol fáctico, empírico e repetitivo, no sentido bom desta palavra. Será um futebol onde os treinadores não se benzem nem os presidentes vão a Fátima ou construirão capelas. Será um futebol onde a expressão "ciência ilógica" cairá em desuso e José Mota, Luis Campos ou mesmo Augusto Inácio não terão medo em dizer "levamos um banho de bola, mereciamos ter perdido por mais" e jamais ouviremos um Octávio Machado falar em "fenomenologias alheias ao futebol". Será um jogo onde a equipa técnica do Varzim não lançará galinhas pretas para trás da baliza do adversário e António Oliveira nem sequer existirá; um jogo onde João Alves não terá de mandar sair do autocarro a sua equipa cada vez que este (autocarro) faz uma marcha a trás.

Terá Vitor Oliveira razão? Conseguirá a Académica/OAF atingir a plenitude positivista no seu futebol?