18.1.04


Henrique “YMCA” Calisto,
Estoril, 1992


O UNIVERSO DOS TREINADORES INCOMPREENDIDOS
Por Augusto Justo, vietnamita.

Hoje dei por mim a pensar como é que é possível um treinador que não é compreendido na sua mátria pátria, ser entendido a milhares de quilómetros. Tanto cogitei que, na minha retina se visualizou uma imagem, forte, de um dos treinadores de futebol que mais aprecio: Henrique Calisto. Em primeiro lugar, pelo nome: conjuga a força de um Henrique à fraqueza de aviário de um Calisto. Se antes se chamasse Cimento, aí sim, teria a minha veneração. Em segundo, pelo estilo livre pensador e ideólogo de um socialista de bancada, que o fez trocar o cheiro do balneário pelo ainda pior cheiro da política. Com efeito, Calisto chegou a ser Presidente da Junta de Freguesia de Matosinhos (imune, claro, às chicotadas psicológicas) e é com saudade que recordo uma das suas mais brilhantes intervenções políticas: quando confrontado com a pergunta Concorda com o betão no Parque da Cidade, no Porto?, Calisto, respondeu; “Coloco muitas dúvidas a essa construção. A convivência entre uma zona de lazer e uma residencial não me parece nada adequada. Romper com o horizonte de profundidade que o mar nos proporciona é perder a nossa identidade.” (in Diário de Notícias, 3 Julho de 2001 ). O conceito de horizonte de profundidade foi algo que Calisto nunca deu às equipas por onde passou. Um incompreendido? Um homem à frente do seu tempo? Creio que sim. Afinal, o que leva um homem a trocar a presidência da junta pela Selecção Nacional do Vietnam? Henrique Calisto busca no distante oriente a identidade perdida em solo nacional, fruto da incompreensão, da intriga e do 4-4-2 double volante. Talvez seja por isso que me emociono ao ouvi-lo dizer, qual herói de Hanói, que “Tôi chấp nhận tiếp tục cuộc phiêu lưu”.