24.1.04


Antigamente apenas e só Jaime, agora e sempre Jaime das Mercês.


AINDA A NOMENCLATURA NO FUTEBOL

Por Quarlos Eirós, marciano.

Uma das questões mais prementes no que concerne ao galopante avanço da pós modernidade no nosso país, mormente, no seu futebol é a questão da aposição de um segundo nome, rectius, de um apelido, a quem termina a carreira e se dedica a outros mesteres futeboleiros. Ou seja: porque raio é que um cromo da bola é conhecido por um nome só e depois de pendurar as botas tem direito ao apelido? Esta fenomenologia, própria de uma “necessidade voraz de identificação do eu com o outro eu” (nas sempre sábias palavras de Gilles Vincent) própria de um crescente fluxo de pós modernidade, tem como materializações empíricas, entre outras, os seguintes casos: Diamantino, ex jogador do Benfica, é agora o Diamantino Miranda. Idênticos casos de crescimento onomástico são visíveis em Jaime (agora num fabuloso Jaime das Mercês), Lúcio (Eduardo Lúcio), Dimas (Dimas Teixeira), Alfredo (Alfredo Castro), Abílio (Abílio Novais), Caetano (Agostinho Caetano), Jesus (António Jesus), Silvino (Silvino Louro) Domingos (Domingos Paciência, do Café DomiSports em Leça, que saúdo efusivamente) Sousa (António Sousa) Jordão (Rui Jordão) e Carvalhal (Carlos Carvalhal), entre dezenas de outros exemplos que deliberadamente ocultamos.
No futebol, como ciência ilógica que é, não há verdades absolutas. Estamos dentro de um universo de aporias que nos pedem, pelo menos três ou nove explicações. Não as damos todas, mas pelo menos adiantamos que este crescimento se fica a dever à necessidade de respeito que a idade e o posto de trabalho impõem. Assim, quanto mais velho e quanto maior for o cargo que ocupar, o ex jogador será nomenclado mais extensamente. Imaginemos que o supracitado de Diamantino, agora Diamantino Miranda se torna, como tudo parece evidenciar, presidente do Futebol Clube de Felgueiras. Aí deverá ser apodado de Diamantino Manuel Fernandes Miranda (ou até de Dr. Diamantino Fernandes Miranda – sim, porque o acrescento de Doutor restringe o uso do segundo nome, por regra. Veja-se o caso, duvidoso é certo, do proto-Dr. António Pimenta Machado, e a consequente queda do Alberto Coimbra que existe entre o António e o Pimenta). Será nessa altura que o pós modernismo onomástico assegurará a sua plenitude. Obviamente que todas as regras comportam em si (nelas) algumas excepções: note-se o caso de Artur Jorge. Por mais alto que voe e até mesmo por mais que se “moscovize”, será sempre o nosso Artur Jorge, jamais Artur Jorge Braga de Melo Teixeira.