27.10.03


Paulo "Y Tu Manela, quanto ganhas?" Futre:
Fintava 8 gajos numa cabine, mas raramente conseguia sair dela

COMPREENDER O PÓS MODERNISMO NO FUTEBOL

1- O EXEMPLO de BERLIM
Pelo Professor Quarlos Eirós

Caminhava eu por Potsdammer Platz quando um rapaz me chutou uma bola. “Passa”, disse ele em alemão, tendo eu percebido “remata, fuzila, se és homem”. Assim o fiz. Estoirei a bola para bem longe dali (Salvador) e, pelos vistos, terei partido um vidro, a crêr no barulho caquejante e tilintante que me chegava ao ouvido. Jean-François Lyotard no seu belíssimo elogio da pós-modernidade diz que : "Não podemos mais recorrer à grande narrativa - não podemos apoiar-nos na dialética do espírito (...) para validar o discurso científico pós-moderno". A verdade é a parte e o vidro, lá está, parte; a fragmentação é o único caminho que pode reconciliar o indivíduo com a sociedade e, claro está, com o futebol. Isso é o que parece proclamar Lyotard em sua fúria para destruir a herança do Iluminismo de Vittorio Pozzo e da sua Itália, bicampeã em 1934 e 1938. Lyotard argumenta que as concepções teóricas, as interpretações tácticas do adversário, são necessariamente coercitivas e dogmáticas e, pior que isso, as filosofias defensivas levam inexoravelmente a humanidade ao beco sem saída do zero a zero.
O crítico norte-americano Fredric Jamenson, no entanto, suspeita que a passagem do período moderno para o pós-moderno tenha significado a substituição da alienação do sujeito pela fragmentação do sujeito. Sustenta que essa fragmentação é, na verdade, o resultado das maravilhosas fintas de grandes nomes como Maradona, Paulo Futre, José Dominguez ou mesmo um António Folha, que pareciam partir-se em dois ou mais, confundindo adversários atrás de adversários. O clássico "fintar oito gajos numa cabine telefónica". Jamenson está preocupado com a incapacidade que o futebolista moderno tem em compreender o sentido do que aparece fragmentado. Eu, sinceramente, também. Foi então que fui ver a exposição da obra de Mies van der Rohe. Encharquei-me em cerveja nessa noite, e a La Salette nunca mais me quis ver. Nem vestido à colchonero.