TOWARDS AN IBERIAN LANGUAGE?
por Augusto Justo, filólogo
"Agradezco a imensa oportunidade de entreinar el Real Madrid. És una honra y una grande óportunidade del entreinar el Real porque se trata de una squadra con el maior palmarés do mundo del futebol y isto me inspira para corresponder als ojectibos deste clube. Quiero correspondier al confiança qél Madrid depositou nas minhas cálidades.”
Carlos Queirós, 25 de Junho de 2003
Com estas singelas palavras e apesar do pedido de desculpas por não falar em castelhano ou em português, Carlos Queirós inscreveu-se no panteão dos portugueses que, mal passam Vilar Formoso são assolados pelo síndroma de se crerem autenticos Camilos Josés Celas da língua de Don Jaime de Marichalar. É verdadeiramente impressionante o vento de Espanha – tido, proverbialmente, como “nem bom” – e os seus efeitos imediáticos na verborreia dos portugueses em geral e, em particular, dos portugueses afectos ao desporto rei (ou presidente, caso a costela penda para o republicanismo). Passa-se Elvas e já se diz “por fabor, entchame lo depósito con nobenta y oicho sin tchumbo”.
Na sua apresentação como “entrenador” do Real, Carlos Queirós terá, segundo estudos linguísticos recentes, dado um decisivo passo na sedimentação do portunhol e na criação de uma nova linguagem trans ibérica, já a piscar o olho a um esperanto latino: com o uso da palavra "squadra", em vez de equipo ou equipa, o Professor lança-se ferozmente à inclusão de italianismos neste novo vocabulário, humilhando, desta forma, correntes mais redutivistas que pretendem restringir o crescimento do idioma apenas ao português e castelhano.
Todavia, a génese desta Ibéria linguística remonta a 1987, aquando da chegada de Paulo Futre a terras de Almodovar, Pedro. Uma semana depois de se instalar em Madrid, em entrevista ao Domingo “Deportivo”, já dizia que “estar aqui é bueno, pero las saudades apertam” ou o antológico “solo corto mi pelo no Montijo”. Actualmente, o arrastão fonético com que fala o português torna-o mais imperceptível que o Vasco Lourinho. Alguns anos mais tarde, ocorria um fenómeno ainda mais curioso – apenas compreensível num prisma patológico – Agostinho, então jovem promessa do Vitória de Guimarães, desatou a falar portunhol logo que soube que o Real Madrid C ou Q de quáquá lhe seguia as pisadas (graças ao olhar rapace do grande Manuel Barbosa). “Me vou a jugar el futbol para Espanha”, dizia ele ainda a caminho de Valença (sem i). Assinou contrato e o português desapareceu (no seu duplo sentido).
Luis Figo é outro dos case studies em análise. Apesar de mais recatado, o “muso” inspirador dos poemas de Manuel Alegre (que lhe dão um galo monumental, diga-se de passagem), não nega à partida uma ciência que desconhece – o ser português. Porém, é claramente notória a vontade interior, recalcada e oprimida por vinte e poucos anos de portugalidade, em castelhanizar-se, vontade essa bem audível no facto de começar todas as frases com um “pois” delongadíssimo, quase pungente, que soa claramente a “pués”. Relembremos, como música para nossos ouvidos, o seu discurso antes quando abriu tudo o que era vogal e dizia que “pués nós no somos os favoritos”. Um pouco como Queirós, só que ao contrário.
Devagar, devagarinho, o portunhol, o torrão de Alicante, a Cepsa, a Evax fina y segura, a Corporación Dermoestética, os nossos futebolistas e agentes conexos lá vão mostrando o grande engano do não menos grande Miguel Costas, emblemático vocalista dos Siniestro Total (ex Mari Cruz Soriano y los que afinan su piano) quando, nos obscuros bares de Vigo, promovia, em 84 o álbum “Menos mal que nos queda Portugal”. Pois. Parece que é ao contrário.
1 Comments:
Vasco Lourinho, Futre y Figo, amigos de España
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