A ARTE DO FUTEBOL E O SEU EXPOENTE MÁXIMO: O CATENACCIO
Pelos obscuros irmãos Q. e W. Monteirinho
Vila Nova de Nascido a, 4 de Julho
Na ciência do futebol, inexacta, como é comummente aceite, existe um princípio denominado "princípio da vitória", que se divide em formulações categóricas. Uma delas é a formulação defensiva do dito princípio, que nos diz que " no futebol só ganha quem defende bem ". Esta formulação leva-nos directamente para o Catenaccio, a mítica táctica inventada pelo austríaco Karl Rappan e aperfeiçoada pelo não menos mítico Helenio Herrera (primo da Teresa Herrera) no seu Inter de Milão dos anos sessenta. O Catenaccio consiste na utilização da célebre táctica 1 guarda redes, 9 defesas e um ponta quieta, sempre à espera do contropiede, da charutada que acaba por ser um passe magistral. Ao fim e ao cabo, reflecte um pouco a nossa vida: os grandes paios são vistos como momentos de génio. E nós somos os primeiros a confirmar a nossa própria genialidade. "Se eu não gostar de mim, quem gostará?", disse alguém um dia num lindo anúncio de têvê. Quando me atiro às mulheres, faço-o usando o Catenaccio, faço-o na defensiva. Nada de espampanâncias. Quando vou à entrevista de emprego, jogo em Catenaccio... nada de aventuras. O que fazemos na vida reflecte-se no futebol e versa vice. Quem gosta da vida, gosta de sardinhas e futebol. Quem espera sempre alcança. Quem defende sempre ataca, o melhor ataque é a defesa, Roma e Pavia não se fizeram num dia, aço, aço, calhamaço... só ataco em catenaccio.
Uma dúvida fica por desvendar: porque não foram os portugueses a inventar o catenaccio? Afinal, e olhando para a psicologia deste nosso povo, talhado para o pessimismo crónico, seria fácil ver no futebol o reflexo da tão lusitana mentalidade ilustrada pelo exemplo que se segue " - Zé Manel, acabaram de te roubar três mil dos teus três mil e duzentos euros que tinhas no banco... - Deixa lá, Marcelino, PODIA TER SIDO PIOR." ou " - Atentado em Samora Correia faz dois mil mortos... - Foi uma desgraça, mas podia ser MUITO PIOR." Ser português sem ter inventado o catenaccio é como ser o Buzz Aldrin e não ter ido nem à Lua nem a Boticas.
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